29.12.09

Você poderia ter me dito tudo

Você poderia ter dito sobre os riscos do Efeito Estufa para as novas gerações.
Do novo namorado daquela atriz da novela.
Das novas contratações futebolísticas.
Do perfil dos ministros na Tailândia .
Da constante inconstância do tempo.
Das críticas sobre o último filme do Almodóvar.
O que você faria se ganhasse na Mega-Sena acumulada.
Sobre a descrença dos jovens na Igreja Católica.
Quem sabe até sobre a saudade de sentar-se bem debaixo de um pé de jabuticabas?
Você poderia ter me dito sacanagens ao pé do ouvido. Meias verdades. Juras de fidelidade. Pedido de casamento e até que me odeia ou, quem sabe, que jamais seremos pares, para sempre ímpares!
Você poderia ter me dito tudo, menos, eu te amo!

24.12.09

Para: Noel


Oi Noel!
Ao longo desse ano recorri a Santo Antônio, Maria Madalena e até a própria Vida para tentar compreender algumas coisinhas que andam acontecendo a minha volta. No entanto, ainda faltam respostas e por isso lhe escrevo.
Ainda não nos conhecemos, não lhe enviei cartas quando pequena, tão pouco, coloquei meus sapatos na janela esperando, com isso, sua visita. Me chamo Lourdes e me chamam de Lurdinha, tenho 34 anos, ainda não casei mas já me separei várias vezes, divido um apartamento com um amigo na qual nunca trepamos (mesmo termos revelado atração mútua no último jogo da verdade), mudo de opinião como troco de roupas, o sentimento que me define é a insatisfação e tenho pra mim que você nunca me responderá, pois nunca botei muita fé em você e nessa sua história de bom velhinho. Juro de pés juntos que você é uma farsa, mas tudo bem, deixemos isso pra depois.
Primeiramente gostaria de saber qual sua relação como o Coelhinho da Páscoa? E não venha me dizer que ele não existe e que é apenas mais um ícone criado pela indústria de marketing para fomentar o consumo e as vendas. Quero realmente saber que tipo de relação vocês têm e quem é o chefão do esquema? Até consigo ver os dois comendo moelas frita, tomando cerveja latão e rindo das nossas caras, afinal, fazer caridade com dia e hora marcada é fácil.
Eu nunca pensei que todo mundo fosse filho de papai Noel. Se você honrasse as calças que usa não deixaria sonhos de vida se transformarem em estratégias de sobrevivência. Mas vamos lá... estou te escrevendo porque tenho alguns pedidos a fazer, nada demais pro dono da fábrica de sonhos. Observação: enumerei para que você não se perca, ok?
1 – Quero acordar nos feriados com música escrita pelo Marcelo Camelo e cantada pela Roberta Sá.
2 – Quero gentileza no ar e não falo de abrir porta ou puxar cadeira e sim de olhares e sentimentos gentis.
3 – Quero uma coberta bem grande para abrasar o frio daqueles que não tem onde se recostar.
4 – Quero brincar de Stop nos sábados a tarde com meus amigos de ontem e de hoje.
5 – Quero rodízio de pizza com refrigerante liberado na África.
6 – Quero abraços fortes, sinceros e demorados 12 vezes por dia ou sempre que necessário.
7 – Quero repostas
8 – Quero um amor pra chamar de meu...que não grite, que me olhe com olhos de admiração, que me rode no ar, faça amor de manhã, que divida a garrafinha de Yakult comigo, que deixe eu dar a primeira mordida no churros dele, que não espie meu celular e que esteja disposto a reiventar o amor todos os dias. Observação: esse não precisa embalar pra presente.
9 – Quero mentiras verdadeiras.
10 - Quero também... banheiro sem fila, dentista sem dor, maconha sem fome, morango com chocolate, domingo de sol e que você se redima e deixe essa máscara cair, tire essa roupa ridícula e desnecessária, entre pela porta e jante conosco na noite de Natal.

7.12.09

De cara com a Vida

Wando era daqueles que comia mortadela frita com batida de banana e dificilmente pensava na Vida. Até que um dia, entre um copo e outro de cachaça, puxou uma cadeira pra ela. Resolveu naquele momento colocar as cartas na mesa. Como nunca foi muito fã do Sagrado Coração de Jesus, evitou intermediários e teve dois dedos de prosa com a própria.
- Eu sou Wando Gilberto Marfim, moro logo ali depois da curva e trabalho depois da descida da marginal, à esquerda.
- Eu sei, Wando. Foi eu quem lhe criou.
-Você tem orgulho disso?
-Posso dizer que sim. Há um tempo estava meio em crise com minhas criações, aí me reuni com o Secretário Geral e Porta-voz oficial de Deus e alinhamos algumas coisas pra facilitar o processo, sabe?
- Tipo o que?
- Muitas coisas, mas vou tentar ser objetiva. Pessoas românticas, por exemplo, desde que criei a Cinderela fiz vários lotes de românticos, com isso tive que criar os filmes, as novelas, as revistas de celebridades e sem falar na Torre Eiffel. A Cinderela, certamente, foi uma das minhas maiores burradas. Os românticos, em determinados momentos, atrapalham o bom andamentos das coisas, eles esquecem de serem práticos.
- Mas por que criaste o amor, então?
- Wando não confunda oras com bolas. Amor é diferente de romantismo. Tão pouco entrarei nesse assunto para não me estender.
- Tá, e o que mais o que foi decidido?
- Tivemos uma grande discussão quando o enviado Dele exigiu que parasse de criar pessoas sexista. Fiquei puta da cara! Como assim? Deu um trabalhão inventar o Freud e todas aquelas teorias e de uma hora pra outra teria que acabar com o sexo e suas conseqüências, que isso! Depois de muitas farpas ficou determinado que, para o próximo ano, sairá um lote grande de pessoas dispostas e desprovidas de qualquer preconceito e romantismo, adepta ao sexo pelo sexo.
- Mais isso já acontece, olhe ali na esquina.
- Não falo de negócios sexuais e sim de pessoas adultas que se encontram, por exemplo, na rua e dizem uma pra outra: gostei de você! Vamos transar?
- Meu Deus!
- Não diga isso, Wando. Quando te fiz o objetivo era que fosses ateu. E agora deu pra colocar o nome desse Cara nas conversas, que mania mais humana. Será que isso é defeito em umas das minhas máquinas? Vou anotar e passar pra assistência técnica.
- Sabes que não sou muito acostumado a pensar em você. Acho um saco quando lá no trabalho vou fumar e encontro alguém que diz: estava aqui pensando na Vida. Não tem como desfazer essa ligação megalomaníaca?
- Claro que não, Wando! Vocês dependem de mim, sou fotossíntese na veia.
- Esse negócio de dependência é desnecessário, Vida. Gerou vinculações em demasia. Quer ver? Dependemos de você, de Deus, do amor, de comida, de sexo bom, de dinheiro, de praia lotada e com Sol, de aplauso, de cafuné, de olhos nos olhos...
- Eu sei, já chega! Fiz um curso semana passada e comecei a estudar uma nova metodologia que seja capaz de desvincular um pouco as coisas. Quando produzi a dependência estava de caso, com o coração preenchido e acabei projetando isso em volta.
- Mais me diz... você vem sempre aqui?
- Pra ser sincera, Wando, esse não é o tipo de lugar que tenho predileção. Mas o dono do bar decidiu “dar um pouco de Vida ao ambiente”, como vocês adoram dizer. Aí já viu, né? Tenho que ficar por aqui até tudo andar sozinho. Falando nisso vou nessa. O dever me chama. Bom falar contigo.
- Ok, Vida! Vou tomar a saideira e já vou também. Vamos marcar de beber umas juntos, ou um forrózinho quem sabe?
- Iria adorar, Wando. Ando precisando relaxar um pouco, cuidar mais da minha Vida.

26.11.09

Nada menos que o melhor

Estava decretado: Lurdinha não aceitaria nada menos que o melhor, como também, não viraria santa nem mesmo depois de morta. Com quase 30 decidiu abolir da sua existência coisas pela metade. De milagres a amigos, passando por meias transas.
Não ligaria mais, aos sábados de manhã, pra Marcinha convidando-a para uma cervejinha. Ela nunca ia.
Passaria a atravessar a rua para comprar o jornal de domingo, pois viu que lá o jornaleiro sorri quando dá o troco.
Na terapia, começaria a chorar logo nos primeiros minutos, evitando ter que engolir sentimentos malfadados.
Na ginástica, não mais dividiria colchonete. Sozinha se alongaria mais e iria para casa sem aquele peso nas costas.
Nos dias de folga, não faria mais listas de tarefas, afinal, folga completa é dia com folgas.
O Bar do Juca seria trocado pelo Bar do João. A iluminação do Juca não prevalecia a cor dos seus cabelos e no João, não vende meia porção de fritas.
Sem sexo pela internet, distância de homem com base nas unhas, nem pensar em receber apenas um botão de rosa e tão pouco transa fixa que vai embora antes do café da manhã.
Na reunião que teve como seu anjo da guarda a pauta foi uma só: nada de milagres pela metade. E que ficasse bem claro que quando ela pedisse casa, comida e roupa lavada. Não necessariamente estava pedindo um apartamento financiado, tele-entrega de pizza paga com cartão de crédito e lavanderia toda quinta à noite.
E por fim, se aceitaria assim: incompleta, inconformada, insatisfeita e até infeliz. Pela metade? Em construção.

9.11.09

Coisas de Maria

Olá Maria Madalena!
Espero que ao receber essa carta você esteja bem. Quem lhe escreve aqui é uma pecadora. Não gostaria de me lamuriar, enche-la de reclamações, no entanto, a vida tem me atirado algumas pedras e desses embates tenho saído ferida.
Não sei se cabe adentramos nesse assunto, mas como foi se relacionar com Jesus Cristo? Acredito que não tenha sido fácil, visto que ele, com a mania de globalizar e evangelizar raramente tinha tempo para você.
Também sou a dita moderna, prego por aí que amores vem e vão. E juro pelo seu Jesus que não existe uma forma padrão de se amar. Sempre enchi a boca pra dizer que seria egoísmo nosso acreditarmos que nascemos para sermos apenas de uma pessoa. É, mas fui pega no fim da rua e sem opções de direita ou esquerda. E agora, Maria?
Se estiver sendo inconveniente, por favor, me fale, mas Jesus nunca chegou a assumir você, né? Pelo que soube viveram sempre às escondidas. Como suportou ser uma espécie de amante? Sim, porque ele vivia dizendo que era casado com a fé, com a Igreja, com as ovelhinhas do rebanho, menos contigo.
Noite passada, numa daquelas análises de travesseiro, percebi que não sou tão contemporânea assim, tento mais não sei ser sexo casual. Aliás, sei, mas na teoria, porque na vida prática, real, dura e romântica me ferro. Esse negócio de estar a disposição do seu bem-querer quando ele quiser, decididamente, não.
Mada, não sou de se jogar fora, tenho algumas falhas, mas nada que o vizinho não tenha, sabe? Peco e em seguida já peço perdão. E do que adianta? Pra ser sexo casual? Será que tenho que virar o disco e tentar o próximo da fila? E você, me conta, chegou a experimentar algum dos apóstolos? O Pedro era um partidão!
Daqui a pouco mais um fim de semana , estou cheia de planos , mas vai ser chagada a hora de jogá-los pelo ralo, pois casualidade pressupõe espontaneidade.
Vou parar por aqui, me responda, por favor. Preciso de uma luz divina porque decididamente não sei se devo lutar e transformar essa casualidade em cotidianidade.
Um beijo,
Da sua admiradora, Maria Madalena

20.10.09

Matemática do desejo


Qual é o denominador comum da nossa matemática?
Eu somo.
Você subtrai.
Elevo-te a máxima potência e os ângulos internos transformam tudo em unidade.
Tenho feito algumas progressões, mas logo a análise combinatória não bate.
Vamos deixar os triângulos de lado.
Que tal sermos quadrados?
Os conjuntos numéricos que cercam minha mente vão ao infinito.
Juntos encheríamos um cubo e ainda sobraria a hipotenusa.
Porque te adicionei aos meus problemas? Não tem lógica.
Na calculadora tentei achar o resultado das vezes que te desejo. Deu erro.
Nem Bhaskara entenderia nossa fórmula.
Ei, vamos simplificar? A porcentagem de dar certo é grande e eu topo fazer a prova dos nove.

8.10.09

Rua sem saída


Tentei direita, esquerda, transversal e paralelas.
Quase fui atropelado por uma jamanta e depois uma bicicleta.
Nada no mercadinho, no balcão da padaria e, tão pouco, na fila do banco.
Olho pro céu e os pombos-correio parecem estar de férias.
Por onde você vem, por aquela rua sem saída?

25.9.09

Massagem nos pés

O sono estava tão longe e já se passava da hora de acalmar os pensamentos. O vento que entrecortava o quarto trazia seu cheiro misturado com o desejo incondicional de ter.
Bobagem! A decisão sempre foi sua. Tolice minha querer te ter, oras.

Quando estava me recostando e as ruas já descansavam o telefone tocou. Com uma voz de fim de festa você declamou palavras da noite. Queria ter te xingado, te mandado pra todos esses lugares bem longe, mas te queria bem perto.
Com a disposição de um coração que pulsa em busca daquilo que a vida oferece, fui!

Alentei, quando de longe vi sua cara de fúria pela minha demora. Morrendo de frio soltou algumas palavras que nem me lembro. Naquele momento seria capaz até de voar. Disfarcei. Éramos apenas eu e você na rua a procura de um canto que pudéssemos nos esquentar. O meu caminhar rápido te irritou, seus pés doíam. Por que não me deixa cuidar de ti?

Nada de mãos dadas, de braços cruzados apenas uma vontade indômita. Acabamos na curva do vento e ali nos despimos. O banheiro não tinha luz e a cama mal nos acolhia. Enquanto massageava seu pé, tomávamos um vinho no gargalo. Manchamos o lençol branco, nos manchamos, nos unimos. Engoli seu sotaque, sua língua, você.
Ainda com o corpo quente você se aconchegou nos meus braços, deixando minha respiração bem no seu ouvido e os corações alinhados. Dormiu.

És-me tão incoerente, inconstante, hesitante e deliciosamente singular. A cada volta que dava na cama mais se emaranhava a mim. Inconsciente deu-me a mão, os braços, a alma. Eu fingindo dormir me deleitava.

Os carros anunciavam um novo dia. Não sabia se te queria com olhos abertos ou fechados. Por uma força motriz invencível nossos corpos decidiram. Fomos um do outro. Enquanto colocávamos as roupas beijei mais uma vez seu pé. Sem mais tempo rumamos para porta. Antes de abri-la mais um beijo. Você saiu primeiro. Paramos na esquina, nos olhamos e cada um pro seu lado. Não olhei pra trás.

Mais uma noite sem sono e cadê você? Queria tanto saber como esta seu pé.

19.9.09

Caixa de saudade

Há tempos que Naldinho não mexia na caixa de bagunças. Lá ficou por horas. Deparou-se com cartas, fotos, cartões-postais, ingressos de teatro, calendários com datas sublinhadas, papel de bala com declarações de amor, pequenos objetos, lembranças, saudade, vida. Sempre pensava que um dia teria que fazer uma limpa naquilo. Deixar somente o que interessava, mas adiava essa data há anos, pois não saberia cortar parte de sua história. Sabia sim, que aquilo tudo no fundo era ele. E como se dividir?

Sorrio muito quando viu a foto de um carnaval que todos saíram vestidos de Brasil: metade do grupo Cruzeiro Novo e a outra metade de URV. A cara da Claudinha com o Marcelão e o Vitinho a segurando no colo, o fez lembrar que naquele grupo de amigos todos se sentiam seguros. Mais dois carnavais e a turma se desfez. Nunca mais nem troca de e-mails. Por anda andava a Claudinha? Será que casou? Teve filhos gêmeos como ela sempre quis? Naldinho abraçou a foto e ali ficou por algum tempo.

Mais uma cavucada e a carta do Affonso apertou seu coração. Estudaram o ginásio e o colegial juntos, eram amigos de um guardar lugar pro outro no refeitório, de fumar os primeiros cigarros juntos, de ver a vida engrenando. Affonso mudou de cidade assim que os estudos terminaram. Em uma das cartas trocadas veio a foto do casamento dele com uma moça da nova cidade. Pelo retrato via-se que o casal estava feliz. Mais algumas mudanças de cidade e os endereços se perderam. Naldinho ainda se lembrava da promessa que um seria padrinho de casamento do outro. E molhou os olhos quando viu que entre as folhas de uma das cartas, Affonso, enviou o discurso que ambos leriam nas cerimônias, escrito debaixo de uma seringueira, durante uma aula cabulada. Tomou água, respirou três vezes bem fundo e chorou ao se deparar de frente com a vontade de querer contar tanta coisa pro amigo, saber das novidades. Mas onde estaria o Affonso?

Tentou guardar a caixa depois disso. Mas de tanto mexer ela não fechava, algumas coisas estavam ficando de fora entre elas um chaveiro desses que as empresas fazem de lembrancinha de final de ano. Foi um agrado que o primo fez na última vez que se encontraram. Conversavam feito dois adultos: carreira, amores, vontades, sonhos, tudo embalado por carne de churrasco do dia anterior e uma cerveja gelada. Haviam crescidos juntos, adoravam o macarrão de carne moída feito pela mãe do Naldinho e, mesmo um jogando bola melhor que o outro, se protegiam. Seguiram caminhos diferentes. Em um desses caminhos o primo se foi. Naldinho não conseguiu conter as lembranças dos muitos natais, dos aniversários, das festas juninas, das molecagens aprontadas. Chorou de soluçar com saudade do primo e da vida que tinham juntos. Para ele o parceiro ainda estava lá, tomando cerveja e a qualquer momento eles poderiam voltar a conversar. Como não se despediu, o primo ainda estava vivo.

A caixa entreaberta foi deixada sobre a cama. Naldinho foi em busca de ar fresco. Sentou-se no banco de uma praça ao lado de uma avultada senhora de olhar dourado, vestido cumprido de chita, lábios fartos, que segurava um maço de alfazemas na mão e tinha o sorriso de Benedita, aquelas pretas sabias. Sem pestanejar se virou para o lado e perguntou:

- A senhora já viveu mais que eu e deve saber por que os amigos não são pra vida toda? Não gostaria de perdê-los ao longo da trajetória. Sei que às vezes é preciso uns irem para outros virem. Mas por que não posso acumular todos em meu ciclo? Tenho muita vontade de saber o que a Kika anda fazendo. E o Testão como engenheiro, o que deu? Queria muito contar pro Aguiar que gosto de poesias, falar pro Emerson que até o encontrei na internet mais não me manifestei com medo de ele não se lembrar de quem eu era. Por que tem que ser assim?

- O meu filho, acho que os amigos são como banho quente em dias de cansaço: desejamos muito, ficamos lá por horas, despidos de tudo, dividindo pensamentos, cantando, chorando, sendo apenas essência. No entanto, a água que sai do chuveiro vai pelo ralo e não volta mais. Se a prendermos em pouco tempo ela perderá suas qualidades. Pode não aceitar, mas é necessário que ela vá para que outra nova venha. Tenho pra mim que amigos são companheiros colocados em nossas trilhas para caminhar conosco até determinada porteira. De lá seguimos só até que outros cheguem. E o amigo que passou encontrará outros e assim o ciclo vai se formando. A essa roda dei o nome de: saudade.

Em casa, Naldinho, abriu novamente a caixa e colocou dentro dela um ramo de alfazema, sem se desfazer de nada, colocou a caixa de saudade no lugar de sempre.

12.9.09

Merda


Tem dias que só penso
faço
falo
e me sinto um
MERDA
Que merda!
Será que é por isso que estou vivo?

7.9.09

Ensina-me a rezar


A pensão de corredores longos, paredes frias, banheiros pequenos e vista para os panfleteiros do Centro da cidade era o que tinha a ofertar.
Você aceitou. Sem se preocupar com o moço da portaria que nem se quer levou seus olhos em direção aos nossos. Pegamos a chave e nos perdemos.
No colchão sem molas, contemplamos um céu pintado por algum pintor que ali ficara e, sem dinheiro para arcar com as despesas, fez um escambo com o dono da hospedaria.
Por algum tempo nada falamos, lembra? Apenas um entrelaçar de mãos bem fortes. Até que sem mais poder resistir deixei de ser eu.
Fui ao teu encontro e ali queria morada. Fomos embalados pelo violinista de feições nordestinas que roubava as atenções dos passantes que corriam para casa no final do dia, bem na esquina da prefeitura. Quando tocou sua música, nem se deu conta que suas mãos desviavam dos fios descascados.
Existimos com veemência.
Será que havia serviço de quarto? Não nos demos conta. O encontro das salivas não deixou a sede chegar.
Re-existimos.
Engraçado: quando estou com você sou diferente daquilo que sonho ser. Tens o dom de me transformar num autista.
Não te falei, mas adorei ver televisão nos seus braços. Levando nossa jura adiante de sermos sinceros sempre, extasiei-me mesmo inalando seu cheiro. Lembro-me que sorria com a barriga e aquelas pequenas contrações não me deixavam dormir e sonhei acordado.
A chuva forte nem avisou que viria. Se soubesse rezar pediria para que chovesse sempre na hora das partidas.
Você ficou. Fui buscar o que comer. Pão molhado no café um do outro.
Dormimos emaranhados.
Queria ter te acordado durante a noite e te contar meus sonhos. Resisti.
Chorei quando despertei e não te vi.
Será que voltas?
Ensina-me a rezar.

2.9.09

O prato na pia

Duas voltas e a porta estava destrancada.
A pasta molhada de chuva foi largada ali mesmo.
O celular escorregou por algum canto no sofá.
A chave? Foi-se, sabe lá Deus pra onde.
Geladeira aberta, pizza no forno e cerveja nos lábios.
Um suspiro seguido de um gemido e o pedaço de azeitona foi retirado da erosão do dente lá do fundo.
Olhar subversivo, sorrisos descabidos, tosse trancada, barriga cheia, forno acesso, lixo aberto e cama.
Qual é mesmo o valor de um prato na pia?

30.8.09

Quebra-cabeça

...fechado
não vou esquecer
eu te devoro
descaradamente
e em partes também
até ficar completo outra vez
aí...
desmembrarei tudo de novo
quebra-cabeça, sabe???
mexe
mexe
mexe
até que...
deu!
mistura e ...
vamos de novo
te devoro.

26.8.09

A melhor amiga do despertador

Logo ao fechar a porta um vácuo se fez.
Estranho. Não deve ser nada, pensou.
A mochila antes agarrada às costas escorregou pelo braço direito.
Os sapatos ficaram apoiados um ao outro bem perto da chave que caiu no chão.
Ao olhar pro sofá ela estava lá como uma manta de adorno estatelada, de pernas abertas e com um sorriso de canto de boca.
Atônito tentou contestar.
Impossível.
Vez que sempre ela dava as caras. Nunca limpava os pés no capacho da entrada, mexia no armário da cozinha, derrubava suco no canto da almofada e deixava o chuveiro ligado por horas.
Para deitar no sofá era preciso passar por cima das longas pernas apoiadas na mesa de centro. O cheiro forte fazia com a mão fosse várias vezes ao nariz. Ela nem ligava.
Tinha ainda, predileção por canais de televisão pares e se abancava do controle remoto descaradamente.
Na cozinha seus rastros eram notórios. Nem mesmo apertar a torneira para não vazar água ela era capaz.
Como sempre deixava o sabonete cair ele se acabava, fazendo com que os banhos fossem com água morna ou no máximo com xampu.
Espaçosa, a preguiça, sempre ficava com a maior parte da coberta e tinha mania de dormir na diagonal.
Esperta, era amiga íntima do despertador.

23.8.09

Panela de pressão


Ângela exauri-se de expor a cara na janela todos os dias e de lá inferir sobre os passantes, os vizinhos e os inimigos. Resolvera se desfazer da velha companheira: lixo seria o destino da almofadinha bordada que servira de suporte para os seus cotovelos esbranquiçados.

Com a tramela fechada foi obrigada a desabotoar o vestido puído e olhar para o que havia sido alinhavado. Seus olhos estavam perdidos, há tempo não tomavam a direção tão bruscamente imposta.
Naquela manhã o aroma do café não dobrou a esquina. O grito de Cida chamando pela vizinha podia ser ouvido há passos dali. Ângela estava deliberada: nada de feira, nada de folhear o catálogo de compras, nada de separar as partes constituintes de um todo e tão pouco falar o mal pelo mal.


Como não se passou da hora de almoçar, sorvera as primeiras lágrimas ao se lembrar que com seu comento a respeito do empréstimo da panela de pressão, Zete, teve que sair às pressas da rua. Sim! Falara em alto e bom tom na janela, na fila da venda e no encontro de casais na igreja que achara um absurdo alguém pedir uma panela emprestada, ainda mais de pressão. Mesmo não concordando, o Conselho de Vizinhas optara por expulsar Zete.


Sem fome e embriagada pelo cheiro de bolo de banana no forno que vazava pela porta, não conseguiu relutar com sua memória que trouxera Cibele, a vizinha da frente: prestativa, sorridente e boleira de mão cheia. O nó no peito se tornava maior à medida que se lembrava que não a tragava. O simples arrastar do chinelinho de pelúcia no taco encerado era capaz de amotinar os sentimentos mais tranqüilos.

Cibele produzia em Ângela uma irritabilidade que a desconcertava e fazia seu coração triplicar os batimentos. Não era só a lerdeza da vizinha de porta em bater os ovos, lavar as roupas e arrumar a casa que a tirava do chão, às vezes, o sorriso bonito dela a deixava com raiva, isso: raiva! Ângela chorou como se tivesse perdido o dedo anular. Tentou conter as próximas lágrimas que teimavam em descer. Chorou! Cibele não supunha de tamanho sentimento. Para ela, Ângela era pau pra toda obra, capaz de dividir tudo, até pregador de roupas.


A noite trouxe a tia Marinalva. Dividiam uma casa amarela na rua de nome Azul. Tentando esconder os olhos vermelhos colocou mais cebola na panela. A tia não falava muito. Nada falou. Ângela comeu sopa sem pão e como de costume colocou cabelos no que sobrara, pois mesmo cada uma fazendo sua comida, tia Marinalva, sempre aceitava o que a sobrinha ofertava por educação. As duas se suportavam, já estava sendo assim por anos.
Mas o que Ângela realmente não tolerava era a risada da tia que ecoava constantemente pelos cômodos vazios da casa. Quando Marinalva sorria levava a cabeça e parte das costas para trás, o peito grande ficava enorme e para completar sempre dava as duas palminhas antes finalizar o riso. Era assim sempre que ouvia uma piada, assistia à televisão ou quando ria de si mesma e de seus esquecimentos costumeiros. Ângela, sempre que ouvia essas risadas pensava que estava jogando óleo quente na cara da tia.


Trezentas e oitenta e duas voltas para esquerda e duzentas e sessenta e seis para direita foi o que Ângela conseguiu contar antes de dormir. Como sempre teve dúvidas em relação à verdadeira ingenuidade dos carneiros, evitava trazê-los para sua cama. O sono foi rápido como suas últimas decisões. Sentada na cama enumerou mais uns nove desafetos gratuitos. Entre eles o padeiro Jucelir e sua mania de fazer pausas entres os diálogos; a Ivete e sua compulsão por compras mesmo estando desempregada; a prima Tina habituada a gozar as férias na casa amarela com sua mania de deixar copos pelos móveis; o pai que faleceu longe e cedo demais; São Judas Tadeus por sua morosidade ante as causas urgentes; Shirlei por usar terças, quintas e sábados o mesmo vestido turquesa e segundas, quartas e sextas, o florido de fundo cinza de sempre; o filho da Clotilde por escutar música alta capaz de ser ouvida no inferno, local esse que Ângela deseja ao rapaz; a moça da loja de armarinho por ter um dedo grosso e cutículas exageradas e ela. Sim, Ângela criara um desafeto consigo mesma. Completamente no ódio dormiu.


Quando acordou, mau se vestiu e foi logo abrir a janela. Em cima da almofadinha catada do lixo, colocou a panela de pressão com uma placa que podia ser lida: empresta-se!

16.8.09

Quem sabe um dia...

Quem sabe um dia eu...
me case.
deixe de gostar do cheiro de pano de chão molhado.
não tenha trilha sonora pra mais nada.
saiba o que fazer com minha liberdade.
coma salada de xuxu com melão.
aceite cabelo na pia.
misture queijo com amora.
goste de Playstation.
retire a dor do próximo com um simples sopro.
demore mais.
vire um músico de rua.
deixe de me adoçar com trufas.
passe dias com pernas entrelaçadas.
me despreocupe.
leia Caio Fernando Abreu depois do sexo.
acampe.
ache a palavra certa.
goste de marrom.
beba até cair e não vomite.
seja menos reticencioso.
convide Deus pra tomar uma cerveja comigo o Felipe e a Vanessa no Entreato.
me masturbe menos.
entenda o que tem de interessante no meu celular.
tenha mais de uma alma.
more na Tailândia.
ame sem pensar.
me torne um super-herói.
vire uma rua sem saída.
venda minha vida num Mercado das Pulgas.
Quem sabe um dia...

10.8.09

Padeço de vontade

Vontade de parar de dormir.
Necessidade fisiológica de grudar-me em braços sinceros.


Algo me incita a chorar.
Uma disposição compulsiva ao amor despretensioso.



Por capricho já tenho até uma trilha para embalar as solas.
Anseio sonhar caminhando na rua.



Aspiro conversas frívolas.
Cobiço poesia-amor-poesia.



Padeço.
Seria eu um bom partido?

3.8.09

Procura-se ilusões

Luiza decidiu sair de casa a procura de ilusões. Resolvera enganar os sentidos e interpretar tudo da forma que achara melhor. Nada de certezas, nada de preciso.


Logo na portaria do prédio se deparou com o senhor Frederico, um aposentado palmeirense, fã de Wagner e Demônios da Garoa que, às vezes, era pego por ela chorando na escadaria entre o terceiro e o quarto andar. Naquele dia ela o transformou em Fred. Livre das pulsões suscetíveis que provocavam sentimentos de culpa, ele correu pro baile da Associação. Lá, com o salão cheio, rodopiou de alegria. O calor do suor que caia em sua boca refrescava uma vontade antes engavetada. Para ela, o Fred era um pé-de-valsa.


No cafezinho durante um intervalo no trabalho, Luiza, flechou sua colega Ana Ermínia. Ficara ali fitando-a por alguns minutos até que decidira que ela não deveria mais usar calças azuis e camisas rosa com sapatos caramelos. Também a trocou de setor. Sim, naquela quarta feira nublada, Aninha, se colocaria num vestido de renda preto, deixaria suas colegas da contabilidade e assim seria absolvida da grande inquietação ante a noção de um perigo imaginário. Depois se jogaria na gestão de risco.


Almoçando sozinha no buffet cheio da esquina, Luiza, resolvera ser vegetariana e que o seu sexo amigo entraria pela porta sorrindo. Cansada de postais não enviados, ligações não completadas e cervejas que esquentam antes do tempo; aceitara o carteiro como o mensageiro do amor. Até a hora da volta ao trabalho não se importaria em ser feliz para sempre, tão pouco, filhos, praia e sogra. Apenas a volúpia.


Voltando pra casa, passou numa banca de revista. Pediu licença ao senhor Vicente e decidiu que as notícias naquele dia seriam diferentes. Nada de guerras, aviões caindo, gripes animalecas ou casamentos acabados. Nas capas das revistas semanais Luiza, colocou a foto do amigo perdido há anos nos trilhos da vida, o reencontro iria parar na retrospectiva de final de ano. Já nos diários, publicou declarações públicas de afeto.


Antes de dormir resolvera que teria bons sonhos e que se, por ventura, acordasse no meio deles, voltaria para o mesmo e de onde parou. Para o dia seguinte já estava decidida: só sairia de casa depois de ler o horóscopo.

22.7.09

Desabafo de um Sofá

Ei! Que abuso é esse do Elevador de querer abrir o bico e falar o que sente. Onde já se viu. De tão indignado que fiquei, resolvi subir no palanque do Clube do Bem e proclamar minha independência. Pois bem, meu nome é Sofá. Diferente do Elevador, eu sim, estou presente em todas as casas. Todo mundo me tem (adoro isso, me sinto importante) às vezes sou de dois, três e até viro cama. Já aviso: não me confundam com cadeira, ainda mais essas solitárias, de canto. Gente, ninguém se dá bem com elas, cadeira sozinha não é bom sinal! Vou pular essa parte. Mas quero usar esse espaço pra dividir com os sócios o que é viver com as bundas.
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Minha primeira casa foi um sobradinho numa cidadezinha em Minas, minha nossa, o que foi aquilo? Queriam de todo jeito me enfiar numa escada caracol. E a Dona Rosa, ficava gritando sem parar: cuidado! cuidado com meu Sofá! Naquele dia, entre uma volta e outra da escada, me dei conta que exerceriam sobre mim um exacerbado sentimento de posse. Odeio isso. No fim tive que entrar, todo e em partes, pela janela. Teve uma vez, que comecei a namorar um sofá de couro bege, pelo amor a sala de estar. Ele tinha ciúmes até das pipocas que caiam em mim. Não, né? Hoje vivo só, num escritório.
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Meu primo, esses corinos meia boca, foi comprado pra viver lá no morro do Alemão, no Rio. Caraca! Ele nos contou, na sessão dos Sofás Anônimos, que a sua dona coloca comida entre as molas dele. Parece que os bandidos roubam tudo. Coitado, chorava enquanto relatava que estava se sentido invadido. O pior foi a família Chenilli, pessoal, barraco na alta sociedade sofazeira; a Casas Bahia comprou o direito de uso deles e fizeram modelos populares em massa. No estoque, em Jundiaí, estão todos os “dois e três lugares” de cores púrpura, areia e turquesa; enfileirados a espera de serem vendidos após o anúncio na TV, domingo, durante o Fantástico. O patriarca da família entrou em crise de identidade.
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Esses dias em Manaus, um casal de jovens recém casados, chegou à loja e viu o meu tio. Logo de cara gostaram. Realmente meu tio tem estilo, todo metido porque foi promovido a design moderno e fica na vitrine. O casal pechinchou, disseram que pagariam a vista e tudo mais. Gente, meu tio contado, o encosto removível dele chegava a se soltar: “fui comprado à vista”, gabava-se ele. Mas o pior é que casal o colocou num sítio. Isso ele não contou, mas descobri com a cadeira solitária e fofoqueira. Na realidade, o sítio é um lugar onde acontecem encontros de swing. E tudo rola em cima do meu tio: o sofazão da alegria!
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Já que adentramos esse assunto, dias atrás estávamos no estoque do Magazine Luiza e o assunto era esse: sexo. O povo que trepa na gente. Depois que inventaram o chaise, então. E o pior que é sempre uma coisa rápida ou o início de transa. Muitos Sofás, assim como eu, reclamam que começam na gente e na melhor parte vão pro quarto. Ei! Já que tirou, mostra, né! E ó, não adianta passar cuspe: esperma não sai com saliva. Mas pelo amor de Deus não nos impermeabilize, sufoca!
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Outra coisa, não me dou bem com pufs e mesas de centro. E odeio que coloquem muitas almofadas sobre mim, isso faz minha rinite atacar dificultando minha respiração. E não tentem me combinar com cortinas e tapetes, gente, não coloquem todas as expectativas de “lar-doce-lar” em nós, meros Sofás, por favor. Ah! Lá em Salvador minha madrinha montou uma associação que pretende lutar contra animais que gostam de dormir em Sofás: como gatos. Ei, cascata dourada de gato ninguém merece. Eu apoio minha madrinha!
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Para finalizar um recado: me sinto menos quando nos encartes de lojas tem o aviso “meramente ilustrativo”, como assim? Fiz anos de análise para ser quem sou. Outra coisa, se não tiver quarto de hóspedes parem de chamar quem quer que seja para dormir na casa de vocês, caso contrário, acaba sobrando pra mim e baba na minha cara, não! E...bunda, amigos, pelo amor a humanidade, a limpeza da bunda na hora do banho é básico e essencial. Me desculpem o linguajar, mais cheiro de rabo sujo, não dá! Que isso. E tem gente que dá uns peidinhos que saem só um arzinho, sabem? Carniça pura. Ficamos combinados: quando forem sentar, não se jogem, sou de mola e posso quebrar, se tiverem suados não sentem em mim, sou nojento! Evitem me reformar, prefiro que me troquem ou me aposentem. Tentem não me limpar com aspirador, pois tenho cócegas. E limpem as bundas, assim, poderemos viver melhor por mais tempo.
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Obrigado pelo espaço, Sofá de dois lugares.

11.7.09

Confissões de um Elevador

Oi gente!
Resolvi me expressar no Clube do Bem porque li que aqui podemos ser quem realmente somos. Pois bem! Meu nome é Elevador, alguns me chamam de Mesmo, isso: Mesmo. Odeio, ora! “Antes de entrar no Elevador, verifique se o Mesmo encontra-se parado neste andar”. Ei! meu nome é Elevador. Alguém gosta de ser chamado de “isso” ou “aquilo”? Ok! Já me acostumei, meu analista já pediu pra eu virar essa página. Mas meu objetivo aqui é dividir com vocês um pouco do meu dia-a-dia.

Estou presente em vários lugares, basta ter mais de quatro andares que lá me colocam. Sei que sou útil, que sem mim muitos não agüentariam, isso me faz bem, mas chega uma hora que cansa, sabe?
Esses dias num condomínio na zona sul do Rio, a Nair do 302, entrou com aquele seu cheiro de rosa afogada, aviso: quando passarem perfume pensem em mim, não sou obrigado a suportar qualquer cheiro. Voltando! Essa Nair não presta, pessoal, toda vez que ela entra, de imediato, começa a cutucar o nariz e tira aqueles (como dizem no Sul) “tatu” do tamanho do Cristo Redentor e coloca, estrategicamente, debaixo do espelho. A Susi, da limpeza, nunca enxerga. Me sinto sujo.


Já num escritório em São Paulo, em plena Paulista, só gente chique, pensei: aqui vai ser moleza, vou ter ajudante e tudo, que nada. Uma cambada de peidorreiros! São tudo uns porcos, bastam estarem sozinho, pronto! Soltam cada peido que até paro para pensar no que esse povo anda comendo: será refogadinho de urubu? E eu, como fico nessa? Outro dia numa rede de lojas em Minas a ascensorista pegou uma senhora limpando a remela dos olhos e colocando embaixo do botão de número 5. Nojenta! Limpa na calça.


Nos blocos, então, é difícil conviver. Como pobre é pobre. Diariamente escarram na minha cara, ficam me mostrando aqueles dentes cheios de cáries e restaurações de amálgama, as meninas tiram a calcinha da bunda e cheiram a mão em seguida, sem falar nos dias de chuva... como pobre toma chuva! Mas pô! Se seca antes de entrar, não sou obrigado!


Por outro lado, adoro dias de orgia! Pessoal, como vocês gostam de fazer as coisas, digamos, me tendo como testemunha ocular. Esses dias a Fernanda do 809, noiva do Murilo do 704, estava de coisinha com o Jonas e o Danilo do prédio da frente. Pasmem, ela nem falava. Sem esquecer os adolescentes que adoram se iniciar me tendo como observador. Aviso, olho mesmo! O ruim é que sempre sobra pra mim: camisinha no cantinho, quando não... deixa pra lá.


E as feias, como gostam de se olhar. É impressionante. Elas acham que do térreo ao 5° andar um milagre vai acontecer! Ei, Jesus não anda de elevador, ele só vai de escada. Não adianta, já falei, implorei, pedi pra Deus falar com ele, mais não tem jeito. Até que um dia o encontrei e perguntei se havia algum problema comigo, enfim? Ele bem sucinto respondeu:
- Preciso manter meu corpo em forma, afinal, fico pregado por aí sem camisa, imagina se iriam rezar para um gordo barrigudo com queixo duplo?
Pensei, é mesmo. Melhor se exercitar e não piorar a merda que já fizeram. Viu, feias, milagres não existem.


Pra finalizar vou deixar um aviso: não gosto de bicho me cheirando, que mania que esses seres têm de cutucar meus cantos. E essa voz que andam colocando nas minhas versões modernas não é minha voz de verdade, gravei 38 vezes a frase: térreo e acharam que não ficou bom. Bem, decidiram abrir um concurso cultural com patrocínio do Ministério da Cultura e a voz escolhida foi a da Renatinha. Gente, escolheram uma fanha tendo orgasmo, poxa! que voz é aquela? Ah! respeitem a lotação indicada na placa, não fiquem pulando enquanto eu trabalho, tentem não me machucar quando a porta emperrar, não aceito mais ser elevador de carga e quando tiver a placa "em manutenção" tentem não me xingar. Desculpem o desabafo, só tentei ser eu mesmo.

8.7.09

Resposta ao procuro_um_amor@hotmail.com

-Oi!
- O que procuras?
- Ser feliz.
- Sim... e o que mais? Afinal, já dizia um amigo: existem coisas mais importantes do que ser feliz!
- Ah... sei lá, talvez... sei lá!
- Tem sonhos?
-Sim tenho, tanto que, às vezes, quase não consigo dormir. Tenho até que tomar uns remédios (rsrsrsrsrsrsrsrsrs)
- Sério que toma uns remédios?
- De vez em quando é bom, né?
- E o que mais você faz de vez em quando?
- Rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs
-Esta rindo do que?
- Meu Deus, isso é tão estranho, nunca participei desse tipo de entrevista.
- Eu também não, mais pelo jeito teremos que nos acostumar... modernidade, ou pós!
- Me diz uma coisa, me fala mais sobre você, sinceridade, hein!
- Deixe-me ver... ok! já que pediu, lá vai: eu fumo três maços de cigarros por dia, gosto de sexo SDMS, só saio da cama se tomar remédios, não falo com minha família faz três anos, escuto pagode dos anos 90 todas as tardes, leio O Segredo sempre que me sinto pra baixo, falo catalão fluente, tenho uma coberta dos smurfs, sonho em ir pra Afeganistão e quero um amor sincero, honesto e que cheire a xampu.
-Hum, legal!
- Você me pediu falei.
- Não, claro, eu sei. Ok! Deixe me ver... Tenho outras entrevistas hoje e darei o retorno até o final de semana, tanto para o sim como para o não, ok?
- Perfeito, espero seu contato e espero também sermos felizes juntos. Leve em consideração minha sinceridade e minha vontade de ter um amor, quando vi seu anúncio pensei: pronto! É isso. Ah! quase esqueci de dizer: não tenho amigos famosos, aliás, odeio essa gente!

2.7.09

Procura-se um amor

Fui dormir com uma vontade de ter um amor. Mas aquele que cheira ao nosso doce preferido e não à pasta de dente, conhece? Esse! Um amor natural, inventado, sem melodramas e bula de prescrição.

No meu quarto escuro, minha mente mais parecia uma projeção de um filme 8 mm. Rodava e fazia um pequeno barulhinho capaz de afastar o sono para bem longe.
Comecei a contar carneirinho para tentar driblar minha escravidão em relação aos meus desejos. Quando cheguei no 33, notei que sou um animal descontente e insatisfeito.
Quero um amor verdadeiro e sincero, e agora?

Fiz um retrocesso mental em busca de possíveis amores. De cara descartei 75%, pois não passavam do terceiro por quê? Quero um amor que chegue pelo menos ao quarto, sim, visto que, responder a porques é fundamental numa relação.

Lembrei dos amores do tempo da escola, dos olhares trocados nos corredores, do lápis coloridos na boca, do “até amanhã” dito no portão; mas quando estava perto do carneirinho de número 48 pensei: já devem ter achado a tampa de suas panelas, quem não achou?

Foi quando cai nos bons  tempo das reuniões dançantes. Será que se reuníssemos aquela mesma turma não sairia casamento?
Ali ninguém gostava de dançar com a vassoura, provavelmente todos encontrariam seu par. Será? Mas, de repente, me veio na memória às tantas vezes que segurei a vassoura nas tais festas modernas, as chamadas baladas. E nem com álcool rodando no sangue consegui me libertar da vassoura imaginária.

Descartei salas de bate-papo, agências de casamentos e simpatias. Santo Antônio até hoje não respondeu a minha carta, talvez, esteja buscando o significado do amor. Antes de desistir resolvi colocar um anúncio no jornal, nos classificados de domingo:

Procuro um amor que não cheire a pasta de dente
Que faça do limão uma limonada
Que não brigue comigo por eu morder as pontas das canetas
Que aceite meu pijama com furos e minha coberta do He-Man
Que não se importe em dormir com a luz meio acesa
Que brinque de Stop nas madrugadas em que o sono não vier
Que limpe o nariz na minha frente quando eu estiver de costas
Que tome o restinho de sopa direto no prato
Que não espiei meu celular
Que esprema meus cravos
Que goste de comer brigadeiro no prato e de colher
Que não tenha amigos famosos
Que valorize o ser e o não ter
Pode ter Quase 30 ou mais

Que seja gente de verdade
Não exijo referências apenas honestidade.
Contatos pelo e-mail:
procuro_um_amor@hotmail.com

19.6.09

O pote de ouro

Acordei com uma vontade de abraçar. Sabe aquele abraço bem apertado que tira com pinça a dor da alma? Esse. Decidi ir atrás.
Comecei a andar pelo Centro e procurar alguma loja que vendesse. Nem nos camelôs encontrei.
Passei na igreja, ascendi uma vela e esperei: nada.
Fui pra feira, de imediato corri pra barraca da laranja, quase todo mundo gosta de laranja, então, pensei, é lá. Nem bagaço de abraço.
Quem sabe na farmácia? Só com receita, a moça falou.
Então, pode ser que na floricultura. Passei em frente e vi que não havia muita gente dentro, mesmo assim entrei. Perguntei se tinham alguma flor que comprando ganharia um abraço. O moço relinchou um não. Decidi, de qualquer forma, comprar uma rosa vermelha, sentar-me no chão do calçadão, abrir os braços e esperar.

No início percebi olhares em minha direção, depois notei que desviavam, outros nem se quer baixavam os olhos. Insisti. Com a rosa na mão, estava pronto para abraçar quem quer fosse, apenas um abraço de verdade. De repente começou a chover e todos corriam muito pra tentar desviar da água. E eu permaneci ali!
O comércio baixou suas portas e a chuva se foi. O Sol trouxe o arco-íris. Atônito, fui atrás dele. Sempre ouvir dizer que havia um pote de ouro, pra mim isso era balela e também não me lembrava se era no início ou no final. Tão pouco sabia onde o arco acabava e começava naquela rua. Mas fui, segui as cores, as luzes. Quando me dei conta algumas pétalas da minha rosa vermelha estavam ficando pelo chão. Pensei: é a natureza.

Quando já havia caminhado o suficiente para sentir minhas pernas doerem, me deparei com um senhor de bastante idade, sentado sobre uma pedra, com as calças arriadas até o joelho, um cachimbo na boca, um chapéu de palha meio de lado na cabeça e com um olhar bondoso e sereno. Observei ao me aproximar que ele tinha ao lado dele uma lata dourada, pensei ser o tal pote de ouro. Mas como ali teria um tesouro? E quando mais perto ainda cheguei vi que a lata estava cheia de rosas vermelhas. Não falei nada. Sentei-me em frente à pedra e fiquei fitando-o por alguns segundos. Ele retirou o chapéu e pediu para que eu colocasse a única pétala que havia sobrado da minha rosa ali dentro. Sem me opor, acatei. Não sei por que, mas a presença dele me deu vontade de chorar.

Ainda com lágrimas nos olhos perguntei:
- Por que não encontrei ninguém disposto a me dar um abraço? Fui a diversos lugares, fiquei na rua esperando de braços abertos e nada. Será que estava pedindo demais?
Com uma expressão de infinita bondade ele colocou a única pétala sobrevivente dentro da lata dourada e voltou o seu olhar para o meu e disse:
- Bonequinho, sou um velho que fala errado e sem muitos dentes na boca. Se você quiser pode vir aqui e nos abraçamos.
Com os olhos encharcados não hesitei, ficamos abraçados o tempo suficiente pra eu me lembrar da Luciane e dos seus olhos doces, da Ana Clara e seu abraço forte, da Sonia e sua paz, da Gil e sua gratidão, do Felipe e sua lealdade, da Vanessa e sua sinceridade, do Afonso do tempo da escola, do pessoal da faculdade, do meu primo que não abracei antes de partir e lembrei também da Monica que não gosta de abraço; de repente meu coração apaziguou. Não tinha vontade de desabraça-lo. Ali fiquei por mais algum tempo. Até que indaguei:
-O que faz o senhor aqui.
Envergonhado ele respondeu:
- Sou só o velho da lata dourada, que todos os dias deixa rosas vermelhas nas floriculturas.
No caminho de volta pra casa tinha certeza que havia encontrado o pote de ouro.

15.6.09

Pela privada

Acordei com uma vontade de transar, muito! Queria ter um caderninho na qual bastasse uma ligação: esta livre hoje? Sem nomes, medos, anseios, juras, planos, sonhos, nada. Apenas sexo. Apenas, não. Porque já é suficiente. Queria transar sem me preocupar se estaria dando prazer, na velocidade que eu bem entendesse e da maneira que mais me agradasse. Mas não queria um ser inanimado, com olhos languidos e pedintes. Gostaria de suar, de sentir o verdadeiro cheiro de sexo.

Sai pelas ruas e não via caras, apenas coito. Quando parava e olhava uma sinaleira vermelha já imagina a sexualidade latente. Atravessava as ruas querendo entrar em outros lugares. Não consegui trabalhar, através dos gráficos enxergava posições, nas palavras somente palavrões. Fui embora. Antes olhei pra trás e procurei uma cara lascívia. O elevador chegou. Não consegui não olhar para o espelho do teto e lembrar da volúpia.

No caminhou de volta, aceitei transar por várias vezes em meu pensamento, no entanto, notei que estava pensando baixo demais. Tirei a camisa. Abri o primeiro botão da calça e andei. Quando cheguei em casa o sexo não estava no sofá a minha espera. No banho, decidi acabar com esse sofrimento. Com o indicador e o polegar da mão direita peguei do chão aquilo que tirara minha tranqüilidade. Dei duas descargas na privada e o sexo tinha ido pra outro caminho.

12.6.09

Carta a Santo Antônio

Oi santo Antônio, tudo jóia! Espero que ao receber essa carta o senhor e a criança estejam bem. Eu sei que seu dia é só amanhã, 13, mas achei relevante te escrever hoje, 12. Na verdade, como te intitulam o santo casamenteiro, gostaria de algumas orientações.
Estive conversando com uma amiga de quase 30 esses dias e discutíamos o medo ou não de amar. Mais aí fiquei pensado: será que é possível dois sentimentos tão distintos andarem lado a lado? Normalmente temos medo de morrer dentro de um elevador, de cair da sacada, de estar parado na sinaleira e um carro passar por cima dos nossos pés, de ser engolido pela onda do mar, de acordar e não poder mais enxergar. Mais medo de amar? O senhor tem como definir o amor pra mim, por favor?

Às vezes, acredito que ele seja como um perfume: no início é forte, depois vai ficando gostoso, intenso na medida, perceptível na rua, capaz de marcar, mas depois sinto que vai ficando mais como se fosse uma sensação, sabe? E com o caminhar do tempo ele passa e se vai. Engraçado. Quando compramos um perfume temos a opção de escolher com seis, oitos, doze ou 24 horas de fixação. Toninho, sabe se pelas suas bandas tem essas alternativas em relação ao amor? Seria legal se pudéssemos comprá-lo com tempo de duração. E o melhor ainda, se tivéssemos a opção de adquirir outro frasco igualzinho e com a mesma fragância quando o fim se anunciasse. Ou quem sabe, quando se encher desse de 30 ml, trocar por um outro, com um novo design e de 50 ml. Afinal temos que investir!

Mais pelo jeito o amor não cheira assim tão bem. Em alguns momentos percebo que chega até a feder. Toninho, mais será que nesses momentos entram em cena nossos sentimentos engavetados? Porque eu não consigo entender como quem ama vasculha um celular que não é seu atrás de mensagens alheias. Ou mesmo, porque se diz estar com raiva profere coisas que assustam. Acredito que quando se ama, certas coisas não se sente, mesmo irado. O grau de elevação do amor em relação aos outros sentimentos creio e espero ser maior.
Mas deixando o romantismo de lado, esse medo de amar, pode ser culpa de cada um de nós, pois sair do nosso quadrado, ir até o do outro, sair de lá e criar um terceiro quadrado, de nome: meu, seu e nosso; pode ser complicado. São muitos sentimentos reunidos, saída da nossa zona de conforto, conhecer o novo, e construir algo que será dividido. Não! Parece demais. Por outro lado, e se o quadrado for bem bom, daqueles que não dá vontade de sair? Pra saber só entrando, né?
Toninho, aguardo suas repostas. Ah! Se tiver uma simpatia boa, daquelas que fizeram pra você e deu certo, manda como anexo, por favor!
Um grande abraço em ti e na criança!

8.6.09

Bate-papo A Procura da Felicidade

Sua conexão ao bate-papo A Procura da Felicidade foi feita com sucesso.

Soraia Phjeoisoklopsfg entra na sala... :):):)
Diamante negro fala para todos: ALGUEM AFIM DE TC?????
Amiga ofere$$ida fala para KsadoSAFADO: KKKKKK Ai... que pergunta
KsadoSAFADO fala para Amiga ofere$$ida: gosta ou naum gosta?
Qroseramado entra na sala...
Amiga ofere$$ida fala para Qroseramado: Tb quero
Qroseramado fala para Amiga ofere$$ida: se vc tiver se oferecendo me add no MSN qroseramado@hotmail.com
Amiga ofere$$ida fala para KsadoSAFADO: xau, vou tentar ser feliz com alguém que ser amado rsrsrsrsrsrsrsrsr
KsadoSAFADO fala para Amiga ofere$$ida: Safada :(
PeladonaCAM fala reservadamente para Soraia Phjeoisoklopsfg: quer tc?
Soraia Phjeoisoklopsfg fala reservadamente para PeladonaCAM: Opa...oi pelado na cam...
PeladonaCAM fala reservadamente para Soraia Phjeoisoklopsfg: legal seu Nick, onde teve essa idéia?
Soraia Phjeoisoklopsfg fala reservadamente para PeladonaCAM: naum eh Nick eh meu nome mesmo : (
Romeu sem Julieta entra na sala...
PeladonaCAM fala reservadamente para Soraia Phjeoisoklopsfg: mais ninguém se chama Soraia do que mesmo???????
Soraia Phjeoisoklopsfg fala reservadamente para PeladonaCAM: nesse momento vai fazer diferença?
Soraia Phjeoisoklopsfg fala reservadamente para PeladonaCAM: e vc tah peladao mesmo?????
PeladonaCAM fala reservadamente para Soraia Phjeoisoklopsfg: o que vc acha?
Romeu sem Julieta fala para Soraia Phjeoisoklopsfg: oiiiiiiiiiiiiiiiiiiii qeh tc ?
Soraia Phjeoisoklopsfg fala para Romeu sem Julieta: c tah peladao tb????
Romeu sem Julieta fala para Soraia Phjeoisoklopsfg: soh depois que conheço bem a pessoa fico assim, vamo tc no reservado?
Soraia Phjeoisoklopsfg fala reservadamente para PeladonaCAM: eu acho que c ta peladao, pedindo carona pra deus :P Adivinhei?
PeladonaCAM fala reservadamente para Soraia Phjeoisoklopsfg: na verdade verdadeira to naum...eh soh pra atrair. Nem tenho cam.
Soraia Phjeoisoklopsfg fala para Romeu sem Julieta: vamo naum, prefiro os peladao... de verdade, viu? E se naum tiver naum me fala. Odeio verdades virtuais...
Diamante negro fala Soraia Phjeoisoklopsfg: Oi! de onde, que idade, qual seu signo, afim do que?
Soraia Phjeoisoklopsfg fala para Diamante negro: eiiiiiiiiiiiii q isso? eh o questionário do censo do IBGE???? Sai fora!
Diamante negro diz para Soraia Phjeoisoklopsfg: iiiiiiiiii, soh achei que vc poderia ser meu prestigio, quem sabe naum teríamos uma sensação e acabaríamos no nosso sonho de valsa...
Soraia Phjeoisoklopsfg sai da sala. :( :( :( :( :( :( :(

Medo de ir pra ficar?

Em pesquisa realizada pelo C.V.V. ficou comprovado que assuntos ligados a área afetiva são mais difíceis de serem lidados pela população adulta e sexualmente ativa (também foram pesquisados os masturbadores insaciáveis). A pergunta: E você vai pra ficar? Ainda deve ser respondida. Deixe o medo de lado e manisfeste-se.

5.6.09

Não vim pra ficar.!?...

Esta sozinho?
Tem alguém pra...?
O que vai fazer hoje à noite?
Hum... já tem? Mais e...
Ah! entendi.
O Clube do Bem em parceria com o C.V.V. recomenda que você ouça a canção abaixo e te convida para a discussão:

Nao vim pra ficar - Renato Braz - ((Wilson das Neves & Paulo Cesar Pinheiro))

Não vim pra ficar.
Não vim pra ficar?
Vim pra ficar.
Vim pra ficar?
Ficar.
Ficar?
Não.
Não?
Não!

E você vai pra ficar?

3.6.09

A dieta do encontro

O Encontro
-Opa! Desculpe-me. Foi sem querer!
- Sei...
- Eu pego isso. Olha o que eu fiz, derrubei todos os seus livros...
- Deixe que eu mesma recolho.
- Que isso, faço questão.
- Não, pode deixar!
-Um, dois e mais um. Oh! Você também vai ler o livro A Dieta do Dr. Atkins?
- Me dê isso aqui... que invasão de privacidade...
- Desculpe é que também vou levar um exemplar para...
- Para o que? Só falta me dizer que você não sabe o que fazer com nabo e cenoura pra se ter uma vida melhor e mais saudável, faça-me o favor!
- Calma, aí...
- É cada uma que não são duas.
- Giuliano Ferreira, prazer!
- Prazer? Onde?
- Não entendi!
- Deixa pra lá. Soraia Phjeoisoklopsfg
- Soraia do que?
- Vai fazer diferença?
- Desculpe! Que bicho te mordeu, hein?
- Que bicho não anda me mordendo, você quer saber?
- Aceita tomar um café comigo, assim me sentirei menos culpado pela minha atrapalhação.
- Café?
- Ou sei lá... uma cerveja ou o que você quiser.
- Às 21h em ponto no endereço do cartão, a lanchonete da livraria cheira a Hambúrguer, sem condições.
- Ok, às 21 em ponto, pode me esperar.

O Desencontro
- Assim?
- Não... mais pra esquerda...
-Assim?
- Quase...
- E agora?
- Mais a sudoeste...
- E agora?
- Aiii, volta, volta... passou
- Estou perto de novo?
- Está frio!
- Peraí, agora já sei!
- NÃO!
- O que foi?
-Ai, não, né!
- Mais qual é o problema?
-Ai, não!
-Ok!
- Vem, vem...
- Aqui?
- Quase, não mexe...
- Posso continuar?
- Faz um giro de 260!
- Peraí!
- Posso seguir?
- Vem, vem ,vem... Fica assim.
- Assim, desse jeito?
- Sim, por que, não?
- Mais é que assim... Me dá nojo
- Nojo do que, meu filho?
- É que nunca fiz isso antes e ....
- E o que? Qual é o problema
- Ah, sei lá... vai que amanhã...
- Amanhã é outro dia!
- Comigo, não. Vivo o hoje pensando no amanhã.
- Eu não creio, estava...
- Não, eu não posso fazer isso.
- Você vai parar agora?
- Acho melhor, né?
- Melhor seria eu...
- Acho que você...
- Fora daqui: SAIA! FORA!
- Minhas...
-FORAAAAA!

O Auto-encontro
-Centro de Valorização da Vida, boa noite!
-BOA NOITE? Só se for pra você!
- Estou lhe ouvindo...
- Qual a função dos legumes e verduras em sua vida?
- Como?
- O que você faz com os legumes e verduras na sua vida?
- Ora!...Como.
- Então, legumes e verduras são para serem comidos, isso?
- Acredito que sim.
- Por favor, decida-se!
- Sim, senhora. Legumes e verduras são para serem comidos, engolidos, devorados, consumidos, tragados...
- Mais, por que, senhora?
- Só pra ter certeza que cada um faz a dieta que quiser e do jeito que bem entender.
- Como?
- Cada um pode comer, engolir, devorar, consumir, tragar do jeito que bem entender, certo?

1.6.09

O carteiro

Era uma vez um carteiro
Que apesar de ir à puteiros
Nunca foi amigo dos porteiros

Era uma vez um carteiro
Que apesar de noveleiro
Nunca flechou um amor certeiro

Era uma vez um carteiro
Que apesar de parceiro
Nunca foi cavalheiro

Era uma vez um homem
Que para toda vida seria carteiro
E apesar de transar igual coelho
Encheu-se de andar rasteiro
E foi tentar ser marinheiro

29.5.09

E Sua Mãe Também

-Centro de Valorização da Vida, boa noite!
- Boa noite!
- Em que posso ajudar?
-Com quem falo?
- Com um amigo, apenas um amigo.
- Gostaria de saber quando é que devemos mudar nossos conceitos e nossas idéias pré-concebidas?
- Hum...
- Ah! E qual é o limite de uma amizade inocente e verdadeira quando o álcool dissolve o super ego?
- Bom, como os universitários já se foram e não tenho a quem recorrer, vou sugerir que assista ao filme: E Sua Mãe Também, talvez, ache suas respostas ou, quem sabe, volte a me ligar.
-Onde encontro?
- Na locadora mais próxima de você.
- Então, tá. Obrigado!
- O CVV agradece a ligação.

25.5.09

Pode perguntar?

- Bem vindo ao C.E.R.E (Centro de Emagrecimento Rápido e Eficiente)!
-Obrigada!
- Antes de qualquer coisa, precisamos preencher um questionário.
- Por quê?
-Porque eles pedem.
-Eles quem?
-Ora, todos.
- Isso vai me ajudar a emagrecer?
- Acredito que sim.
- Ah! Você acredita...
- Nome?
- Soraia Phjeoisoklopsfg
- Do que?
- Isso importa?
- Sim.
- Por quê?
- Porque no formulário precisamos colocar o nome completo.
- Mais que diferença isso vai fazer no meu emagrecimento? Apenas Soraia!
- Data de nascimento?
- Como?
- Que dia você nasceu?
- Eu entendi a pergunta, só não entendi a relevância disso?Pergunta cretina, passo!
- Estado civil?
- Quais as opções?
- Como assim, quais as opções?
-Você me perguntou um estado civil, certo?E eu estou te perguntando quais as opções que tem?
- Não entendi, desculpe.
- Vê se tem aí: tenho dedo podre pra escolher homem? Ou então: procuro alguém perfeito. Ou ainda: Casa, comida e roupa lavada?
- Acredito que posso pular essa.
- Toma alguma medicação?
- Prescrita pelo médico três e por mim seis.
- Quais?
- Que diferença isso vai fazer na sua vida?
- Desculpe, é que o formulário pergunta.
- Você nunca questionou esse questionário?
- Como assim?
- Acredito que você deva ir para a próxima questão.
- Como foram seus cinco últimos dias?
- Você quer saber o que eu comi nos últimos cinco dias, é isso?
-Não, senhora. Como foram seus últimos cinco dias.
- No primeiro matei o vizinho do 304. No segundo tentei me suicidar por três vezes com medicamentos. No terceiro minha mãe se jogou do trem em que viajava. No quarto fiz um aborto com agulha de tricô. E, finalmente, no quinto estou aqui tentado apenas emagrecer.
- Ah! Esqueci de falar, que no primeiro dia, também mandei matar a secretária do Vigilantes do Peso. Fazia perguntas demais, mais alguma questão? Pode perguntar!

22.5.09

Os mandamentos da vontade

Há mais de dois mil anos, paira sobre nossas cabeças, algumas orientações vindas da Igreja Católica, sobre como devemos agir no cotidiano. Os dez mandamentos, por exemplo, escrito, segundo a lenda por Deus, enumera modos de inter-relacionamento humano. Mesmo quem não é Católico Apostólico Romano já ouviu essas sugestões.
Ok! Não posso matar. Não posso cometer adultério. Não posso roubar. Não posso cobiçar o que é do próximo. Mais por quê? Por mais que tenham sido escritos em pedras e tenham sido divulgados pelos quatros cantos, às vezes, não entendo essas regulagens.

Vejamos! As regras e leis permitem que as relações sócio-culturais acontecem, já que sem elas viveríamos numa bagunça generalizada. Até aí tudo bem. Então, por que mesmo assim tenho vontade de matar um monte de gente? Por que minha cama não é habitada apenas por quem estou amando nesse momento? Por que sempre que vejo algo muito pequeno em uma loja penso que isso caberia no meu bolso e ninguém nunca iria saber que levei. E por que ainda desde pequeno espio a grama do outro? Se Deus nos criou e criou os mandamentos porque não criou também um mecanismo capaz de subtrair de nossas mentes toda e qualquer forma/ pensamento não condizente com as leis por Ele imposta? Tenho a sensação que sou um eterno pecador! Nada de céu com anjinhos de cabelos cacheados tocando harpa pra me receber.

Mas penso que o céu deve ser chato. Imagina aquele monte de gente boa, falando baixinho, olhando nos seus olhos, te ajudando sem pedir nada em troca, bebendo água, comendo verduras, tomando homeopatia e escutando música clássica ou sons da natureza. Inferno aqui vou eu!
Engraçado essa coisa de céu e inferno. E você, já comprou seu ticket pra um dos dois lugares? Onde acha que acabarás? Como tem vivido seus dias? Como andam seus pensamentos? Os meus andam em círculos na velocidade nível seis. Sempre desejei saber se os pensamentos vêem primeiro que a vontade ou a vontade vem dos pensamentos? Freud ainda esta pensando a respeito.

Pra aliviar um pouco meus pecados decidi ajudar minha vizinha. Mas agora eu que preciso de ajuda. Alguém pode levar uma carta minha pra Deus? Coisa simples, vou até dizer o conteúdo antes para ninguém ter problemas na imigração:
Oi Deus tudo bem contigo? E aí, o que tem achado do mundo que você criou? E das pessoas? Ainda acha que isso é o paraíso? Mais não vou te encher de perguntas, deve estar super ocupado com a crise mundial, com os torcedores do Corinthians, com as mulheres que querem casar, com os desabrigados das chuvas e com os que não têm o que comer na janta.
Coisa rápida: Minha vizinha sempre acreditou muito em Você, até que um dia a Martha a levou num Centro Budista, desde então, ela passou a acreditar que Buda, sim, é quem opera milagres. Não adianta nem o que a mãe e o pai falem pra ela, esses dias até a vi erguer a mão em direção a sua mãe. Mais tudo isso começou, quando a Norminha mudou lá para a nossa rua e passou a desfilar pra lá e pra cá com seu carro, suas roupas de grife e o seu celular novinho.
Enlouquecida a vizinha começou a dar em cima do marido rico da Judith. Todo mundo no bairro sabia que a vizinha era invejosa, mais amante foi novidade. Nisso, foi pega roubando na venda do Sr Pedrinho, na polícia ela jurou de pé juntos que não havia pegado nada. Chegou aqui na rua de camburão e tudo.
Mas minha pergunta é a seguinte: a vizinha foi pega na cama com o marido da Judith, nervosa correu por guarda-roupas, lá encontrou um revólver, fora de si apontou pro amante e pra Judith e sem pensar atirou em sua própria mãe que tinha acabado de entrar no quarto. Desde então a vizinha esta presa. Hoje, ela é evangélica e prega no presídio aos domingos. E ela mandou te perguntar se ela se arrepender, ela tem um lugarzinho aí no céu pertinho de Ti? Ela prometeu que a partir de agora seguirá seus mandamentos. Aguardo sua reposta.

Atenciosamente!

20.5.09

Quem sou eu?

Ok vou te contar. Puxa uma cadeira, vou pedir uma cerveja e um aipim frito pra beliscarmos. Pode ser?

Sou de gêmeos. Tenho um lado bom e um lado mal, assim como você. Às vezes, um prevalece mais que o outro. Depende de mim! Escuto com frequência que sou um cara do bem, acreditei nisso e montei um Clube, o Clube do Bem. Mas não só para bonzinho como o nome insinua. Para todos que querem ser aquilo que realmente são e que sabem que isso os levará além.

Eu? Penso mais que gostaria. Amo mais que deveria e desgosto assim como acaba minha bateria. Alguns me chamam de ansioso. Pode ser! Tenho ansiedade por viver e por ver a próxima peça de teatro que entrará em cartaz.

Minha casa, às vezes, cheira a leite azedo: um litro é muito. Já 600 ml de cerveja é pouco, só com isso o álcool não consegue fazer seu papel. Acho que longe é um lugar inseguro.

Cozinho e tenho preguiça de lavar a louça. Tem dias que chego a fechar a porta para não encontrá-la com aqueles olhos vivos implorando misericórdia e sabão. Já meus pensamentos impuros tento lavá-los diariamente.

Não gosto de São Paulo, prefiro São João. Cheiro de pipoca com manteiga me dá azia. Aliás, me enjoa gente chata, carente de amor e que nunca sentiu o cheiro de pó de uma cortina de teatro, num prédio restaurado com dinheiro público, no Centro da cidade.

Rezo no trânsito em direção ao trabalho. Rezo para que todos um dia possam deitar num divã e deixar de viver de olhos fechados. Rezo de noite e no banho. Às vezes, no banho também penso em sexo.

Acendo velas para receber os amigos e os amores. Minha casa é um cenário vivo. São Jorge me olha de todos os lados. Aos sábados de tarde, gosto de dormir no sofá e já acordei cheirando uma mancha de maionese que caiu de um “X Graxa” qualquer que me fez companhia numa dessas noites em que a novela acabou mais cedo.

Gosto de ler revistas sentado no vaso e escutando músicas. Alguns versos me fazem sorrir. Algumas músicas me fazem chorar. Levei alguns anos para aprender a sentir o gosto de uma lágrima na boca. Hoje até choro de rir... é bom!

Tenho preguiça. Tenho fome de chocolate. Tenho sede de suco de limão com gelo. Tenho muita vontade de voltar a fumar. Tenho rinite. Tenho sonhos. Tenho um celular que toca o dia todo. Mais estranho: porque será que nenhum santo de Deus me manda um SMS, com as direções do melhor caminho a seguir?

Tenho vontades. Tenho arrependimentos. Tenho medo de escuro. Tenho aflição de Bom Bril. Tenho reparações. Tenho paixão por papel em branco à espera de minhas loucuras. Tenho desejos proibidos. Tenho vontade de espiar e saber se lá é melhor que aqui. Tenho raiva quando tenho que levantar para trocar de canal porque a pilha do controle esta fraca. Tenho a melhor sensação do mundo quando falo com João, Sonia, Gil, Ana, Maria, Felipe, Vanessa... Às vezes também falo com as paredes.

Tenho grandes amigos. Tenho botecos preferidos. Tenho família de dar inveja. Aliás, às vezes, invejo, mais logo passa. Tenho flores em casa. Tenho poema do Drummond ao lado da cama. Tenho fotos em que me odeio. Tenho uma cachorra que se chama Vida e se sente a própria. Tenho saudade. Tenho vontade de ser Deus. Acho que vou tentar...