3.8.09

Procura-se ilusões

Luiza decidiu sair de casa a procura de ilusões. Resolvera enganar os sentidos e interpretar tudo da forma que achara melhor. Nada de certezas, nada de preciso.


Logo na portaria do prédio se deparou com o senhor Frederico, um aposentado palmeirense, fã de Wagner e Demônios da Garoa que, às vezes, era pego por ela chorando na escadaria entre o terceiro e o quarto andar. Naquele dia ela o transformou em Fred. Livre das pulsões suscetíveis que provocavam sentimentos de culpa, ele correu pro baile da Associação. Lá, com o salão cheio, rodopiou de alegria. O calor do suor que caia em sua boca refrescava uma vontade antes engavetada. Para ela, o Fred era um pé-de-valsa.


No cafezinho durante um intervalo no trabalho, Luiza, flechou sua colega Ana Ermínia. Ficara ali fitando-a por alguns minutos até que decidira que ela não deveria mais usar calças azuis e camisas rosa com sapatos caramelos. Também a trocou de setor. Sim, naquela quarta feira nublada, Aninha, se colocaria num vestido de renda preto, deixaria suas colegas da contabilidade e assim seria absolvida da grande inquietação ante a noção de um perigo imaginário. Depois se jogaria na gestão de risco.


Almoçando sozinha no buffet cheio da esquina, Luiza, resolvera ser vegetariana e que o seu sexo amigo entraria pela porta sorrindo. Cansada de postais não enviados, ligações não completadas e cervejas que esquentam antes do tempo; aceitara o carteiro como o mensageiro do amor. Até a hora da volta ao trabalho não se importaria em ser feliz para sempre, tão pouco, filhos, praia e sogra. Apenas a volúpia.


Voltando pra casa, passou numa banca de revista. Pediu licença ao senhor Vicente e decidiu que as notícias naquele dia seriam diferentes. Nada de guerras, aviões caindo, gripes animalecas ou casamentos acabados. Nas capas das revistas semanais Luiza, colocou a foto do amigo perdido há anos nos trilhos da vida, o reencontro iria parar na retrospectiva de final de ano. Já nos diários, publicou declarações públicas de afeto.


Antes de dormir resolvera que teria bons sonhos e que se, por ventura, acordasse no meio deles, voltaria para o mesmo e de onde parou. Para o dia seguinte já estava decidida: só sairia de casa depois de ler o horóscopo.