29.3.10

Mesa pra três

Maldita confiança onde você esta?
Sabes que não sirvo para regar dias e noites um gostar platônico. Volta!
Deixei de ser egoísta e de me guardar pro imaginável. Cadê as palavras? Se formem em minha boca e me ajudem a dizer:
Queria-te ao meu lado, por cima, debaixo; juntos. Anseio por bater minha perna na tua, te acordar sem querer, te dar um beijo e te puxar pra mim. Aceito-te assim, como és. Mesmo não sabendo muito, arrisco. Nem em bingo ganhei, mas quando joguei a moeda deu Cara. Confiei!
Quando te encontro percebo que o orgulho se esconde. As risadas trocadas encobertam a ansiedade em te abraçar. O tempo nem tem mudado tanto, então...
Não aguento mais tentar forjar encontros e te procurar na internet. Tentei deixar uma carta anônima no seu caminho e até em te seguir já cogitei.
Basta ! Aceito trocar amenidades por realidades. Encontrar-te vez que outra me fez indagar o destino e ele falou que o que é meu está guardado. Vai, tira a chave do bolso. Quero te cantar I´m Yours. Sim, cobiço ser seu.
Maldita confiança onde você esta? Isso é hora de me deixar? Volta! Prometo que peço uma mesa pra três e te deixo escolher o cardápio. Volta, vai!

23.3.10

Tic tac, tic tac, tic tac



Ontem arranquei meu coração. Coloquei no lugar um relógio desses de corda. Quero ouvir bem alto o tic tac, tic tac, tic tac e poder girar, girar quando fraquinho ele estiver, até voltar a pulsar e gritar o tic tac aos quatro cantos. Voltas, muitas voltas quero dar com esse novo coração. Nada de tempo perdido, quanto mais perda de tempo. Fiquei na dúvida se contratava um cuco, mas pensei: e se ele for daqueles intrometidos? Melhor não!
Posso escutá-lo nesse momento e sei que daqui a pouco o ponteiro grande estará no nove e o pequeno no três. Nada de armadilhas e infartos. Quando a saudade vier vou lá e adianto uma ou duas horinhas. Se o sono não aparecer volto quantos trinta minutos forem necessários.
Com o coração antigo deixei uma paixão secreta. Sim, ele me traiu, pegando-me de sobressalto. Quando vi, estava com ele quase saindo pela boca, foi a gota d´agua. Como assim? Ousado e auto-suficiente se achou no direito de me pregar essa peça. Agora esta lá, dentro de uma caixa, atrás das cobertas, no fundo do guarda-roupas. Tornei-me meu cardiologista.
Já me prometi: todas as noites colocarei ele pra carregar, assim aproveitarei o dia todo ao som do tic tac, tic tac! Hum... será que terei sonhos com esse novo coração? Será que ele me fará ouvir a mesma música cinquenta e duas vezes? Melhor dar mais corda, acho que ele esta parando. Nem prestei atenção no tempo da garantia. Tomara que ele não estrague tão cedo. Estou confiante. Tic tac, tic tac, tic tac!

15.3.10

O encontro



“Oi amigo! Tudo bem? Tenho saudade. Sabe, tenho mudado muito nos últimos tempos. Não sou mais a mesma. Mudei muito, mas pra melhor, viu? Só estou um pouco assustada, queria que estivesse aqui para segurar minha mão. Manda notícias, amo-te! Vê”

Vez que outra, Juliano, era agraciado com as mensagens virtuais da Verônica. Amigos de colocarem chicletes no congelador pra continuar mascando depois da janta, se entendiam. Dividiam sonhos, aspirações, suspiros, naufrágios e até uns beijos trocaram; mas não passaram disso, optarem por várias noites ao invés de uma. Desataram as mãos numa dessas vias duplas da vida. Cada um pro seu lado, entretanto: sempre juntos.

Mesmo sem vê-la há um par de meses, Juliano, sabia que Verônica estava fumando, que se envolvera com pessoas certas nas horas erradas, da saída do pai de casa, que a avó estava bem e que a compulsão por tomates secos continuava.
Verônica também sabia que Juliano havia chutado o balde e largado casa, comida e roupa lavada por acreditar numa voz interna e inquieta. Soube também que sua mãe estava com dores nas costas, que ele bebera mais vinho do que antes, nada de casamentos ainda e que o cinema francês fizera sua cabeça.
No entanto, a frase: “não sou mais a mesma” o assustou. Como assim? Como podemos deixar de sermos quem somos?, pensou. Antes de responder a mensagem, parou em frente ao espelho e tentou ver quem estava ali. Viu que ele havia optado por remover algumas coisas, cambiar outras, substituir pensamentos, desviar direções, alargar emoções, dispor-se de outro modo: convertendo-se, variando, transformando-se.

“Oi amiga! Tudo bem? Também tenho saudade. Sabe, tenho mudado muito nos últimos tempos. Deixei de ser quem era, mas não se assuste; acho que foi pra melhor, viu? Pena que você não esta aqui para segurar minha mão. Já que você mudou e eu também, que tal marcarmos um encontro para nos apresentarmos? Manda notícias, amo-te! Ju”