4.11.11

A arte de cada um




17.10.11

A primeira vez é sempre a última chance

Acordei arrependido.
De não ter ido ao último show do Legião nos auge dos meus 15 anos.
De ter feito xixi numa garrafa de guaraná Brahma e ter dado para meu vizinho beber.
De nunca ter acampado.

Arrependido não consegui mais dormi.
Pois podia ter sido advogado e salvo o mundo ou parte dele.
E se eu tivesse me declarado para aquele amor da sexta série?

Quando quase peguei no sono lembrei.
Da briga da vizinha que não apartei e que a Julia ficou sem pai. 
Que não comi pipoca de chocolate o suficiente.
Que sorri pouco e chorei demais.

Arrependido
De não ter dado mais espaço para confiança.
De não ter acreditado no amor incondicional.
De brincar demais com meus amigos imaginários.

Arrependido
De saber na pele que a primeira vez é sempre a última chance.





12.8.11

O que é seu esta guardado


Título Original: Signs
Gênero: Comédia/Curta
País: Austrália
Ano de Produção: 2008
Tempo de Duração: 12 minutos
Direção: Patrick Hughes
Roteiro: Patrick Hughes
Elenco: Kestie Morassi (Stacey) e Nick Russell (Jason)

8.8.11

Hoje



Gosto quando acordo feliz.
Principalmente quando venho de dias negro.
Feliz quero tudo:
Abrir um negócio.
Plantar feijão no algodão.
Ligar para Monica.
Abraçar com que cruzo na rua.
Trocar a lâmpada da sala por uma colorida.
Comer só saladas.
Tirar o pó de cima das portas.
Transar de pé no chuveiro.
Dançar lambada
Ler Houellebecq
Ouvir rádio nas alturas.
Rir.
Dividir.
Somar.
E evitar, o quanto for possível, ir para cama e dormir, já que nunca sei como vou acordar amanhã.

2.8.11

A corrente entre o amor e o sonho

Somos condicionados ao amor. Não tem jeito. Vira e mexe ele nos ronda, às vezes, fica outras vai e demora a voltar. Talvez para que demos mais valor quando ele de novo pelas redondezas estiver.
Por esse tal amor, ou pela falta dele, muitas vezes, somos obrigados a readaptar nossos sonhos, dar a eles outras formas, quem sabe um retoque ou então derrubar o castelinho de areia e reconstruir outra fortaleza.
Mas como se readapta sonhos? Como se con-vive com o amor ou a falta dele?
.
.
.
Contracorriente é uma história de sonhos, sonhos readaptados e de amor.
*Roteiro e direção: Javier Fuentes - León

19.7.11

De cara nova


Fernando Pessoal disse uma vez que há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.  Segundo ele, esse seria o tempo da travessia e se não ousarmos fazê-la ficaremos sempre à margem de nós mesmos.
De braços aberto o Clube do Bem atravessa a ponte de madeiras que balança com o vento. Mudamos. Assim como a vida, os destinos, os sonhos e nós mesmos.
Com um foco maior no ser humano e com um cardápio que vai de viagens a religião passando por crônicas da vida como ela é ou como deveria ser, o CB se prepara para vasculhar verdades nas realidades mentirosas.
Será um prazer ter sua companhia!

29.5.11

Economia de pensamentos


Ruth, as vezes, odiava a velocidade da vida. Ainda ontem era setembro e amanhã é quase junho. O que mudou? Melhor não colocar na balança, pensou ela.
Logo após o Natal jurou para si mesma não mais fazer planos sérios. Deixar de ler o tarô do dia e aceitar as rasteiras do destino seriam suas únicas metas.  Mas ela não conseguia. Por que será?
Sua mãe, dona Carmem, sempre que vinha da missa, enquanto fritava umas fatias de queijo na frigideira, soltava a mesma pergunta:
- Já sabe o que vai fazer da vida, minha filha?
Ruth retrucava algumas palavras como resposta e feito faísca sumia dali.  Na cama pensava, pensava, pensava até não mais dormir.
O tempo estava passando e ela notou que ainda não tinha cortado franja, que nunca foi amada, nem sequer amante. As voltas dela na rua se resumiam a uma ou outra montagem de Sartre por grupos de teatro amador e a conversas nas salas de bate-papo sobre os quereres da vida.
O que mudou?  
O dia já raiava pelas cortinas quando ela se levantou bruscamente da cama como quem teve uma luz divina: é isso!
Para Ruth talvez todo mal estivesse no pensar. Foi então que ela decretou sua mais nova lei de existência: economizar pensamentos. Passaria a poupar o que mais vinha gastando até então.
Ao invés do teatro, na sexta foi ao Clube da praça, sozinha. Deixou a jaqueta em uma cadeira qualquer e na pista dançou a coreografia do Flashdance todinha. Se a Claudia e a Tati riram ela nem notou.
Encontrou o Marcinho, seu vizinho do tempo de infância e hoje noivo da Talita, na padaria dia desses e ao invés de trocas de sorrisos, lembranças de brincadeiras como a do copo que andava; segurando sua baguete pela ponta que saia do saco, socou-lhe um beijo: quente, demorado e profundo. Quando o rapaz abriu os olhos nem viu que ela já havia cortado a esquina rebolando.
Sem dinheiro para cursar a faculdade de Moda na cidade vizinha, resolveu parcelar o curso de corte e costura da Dona Alzira. Aulas três vezes por semana, ali mesmo, no puxadinho que a mais famosa costureira fez alinhavando desejos.
Encontrou o Wagner, o ex, duas ou três vezes por acaso na rua e a antiga vontade de fazer aqueles discursos- vingança-lava alma não poluíram sua cabeça. Passava por ele sempre rebolando.
Numa tarde qualquer leu Quincas Borba por diversão seguida de um porre de vinho de garrafão. Comprou uma bicicleta usada e no sábado passado assistiu Minha vida sem mim. Chorou! Dias atrás pediu um abraço ao pai antes de dormir.
Dormiu. Se sonhou esqueceu.
Por insistência da amiga Emilia, foi falar com o pastor da igreja. Para Emilia só poderia ser algum tipo de possessão do demônio alguém não querer mais pensar. Como assim? Perguntava-se a amiga. Ruth saiu da salinha do pastor com um sorriso de canto de boca e disse para Emilia que não havia sido dessa vez que ela entraria para o exército da salvação. Deixou a igreja rebolando.  
No caminho de volta para casa passou na banca do Sr. Carlito e pediu para embrulhar quatro ou cinco revistas dessas de fofoca.  O troco foi de bala 7 Belo. Sr Carlito gritou Sr. Adão do pastel pra correr ali rapidinho e ver a moça chupando bala enquanto ia... rebolando.
Encontrou sua mãe no porta de casa, ela vinha da missa e Ruth sabia o que lhe esperava. O vento bateu a porta tão forte que quase derrubou o quadrinho pendurado escrito Lar doce lar.
Cortando queijo a mãe soltou a flechada:
-Ruth, minha filha, já sabe o que vai fazer da vida, daqui a pouco você vai fazer 28?
Com as palmas das mãos viradas para o céu e olhando sem piscar dentro dos olhos da mãe, respondeu depois de sorrir:
- Viver, mãe. Estou e vou viver a vida que tenho aqui nessas mãos e não a vida que penso ter.
Saiu da cozinha rebolando.

14.4.11

Amor em tempos de crise



Andando desrumado procurando não encontrar ia desviando dos apressados no Centro da cidade que por sorte divina corriam para algum lugar ou para alguém.
Comecei a costear as lojas com barracas nas calçadas quando os pingos de chuva mancharam meus óculos. Abordado por um vendedor com megafone na mão, tentei desviar. Ele insistiu. Relutei. Cedi.
- Liquidação, liquidação!! Quer aproveitar, meu senhor?
- Como?
- Liquidação! Estamos liquidando o amor até o final do dia. É pegar ou largar!
- Posso dar apenas uma olhadinha?
- Mais é claro, meu senhor! Vamos lá no balcão que vou lhe mostrar as opções.
- Como assim opções?
- O negócio se modernizou, espere pra ver!
- É pelo jeito vou pagar pra ver.
- Pois bem, esse aqui é o mais simplezinho. Não tem muita potência. Sem regulagens de intensidade, mas  garanto que funciona. Ideal pra quem não exige muito. Sabe como é, né?
- Sei! E as outras opções quais são?
- Bom, esse aqui sai bastante. Modelo mais moderno, as mães adoram. Com regulagem automática, manual de instruções em quatro línguas e tem até um programador de emoções. Foi sensação no verão e o preço é bem camarada.
- Camarada quanto?
- Antes deixa eu te mostrar o amor última geração. Completinho, mais de seis regulagens tanto manuais quanto automáticas. A prova de silêncios intermináveis, pois aqui atrás tem um MP3 player embutido só com canções de novelas. Nesse compartimento aqui uma caixa de primeiros socorros com Paracetamol, Viagra, Lexotan, gelzinho e tudo mais.  Nos Estados Unidos faz um sucesso enorme e semana que vem vai começar a aparecer nos intervalos do Faustão. Ah! Sem falar no design ultramoderno e em três cores diferentes.
- Mas por que estão liquidando se é lançamento?
- Não sei bem, mas meu gerente falou que eles querem popularizar o amor. Deixar ele mais acessível. Bom isso, não é?
- E como funciona? Quero dizer, como instalo e em quanto tempo começo a colher os resultados?
- Meu senhor, além do manual de instruções com ilustrações, vem um CD de instalação e mais esse mini livro com poesias do... Só um pouquinho que vou verificar o nome do cara. Ah! Fernando Pessoa. Mais fácil que isso não tem. Resultados garantidos, viu?
- Sei. E os preços?
- Vejamos. Vou descartar esses dois mais simples, porque já notei que queres amor de verdade, daqueles de tremer perninha. Real!
- Isso mesmo, real!
- Oh! A campanhia tocou. Sempre que isso acontece quem estiver no balcão da loja pode parcelar tudo em 24 vezes sem juros e no cartão.  É pegar ou largar, não falei?
- Mas se não funcionar, quero dizer, se não nos dermos bem, ou aparecer aqueles problemas de afinidade, incompatibilidade de gênios, ritmos diferentes na cama, sei lá! Posso devolver e rever meu dinheiro de volta?
- Entrar numa relação com pensamento negativo é um grande erro, meu senhor!
- Só estou tentando ser prático, rapaz, realista.
- Ô meu senhor, tente ver que hoje é seu grande dia de sorte. O amor bateu na sua porta. O fato de não trocarmos nem aceitarmos devoluções de produtos de liquidação é pequeno perto disso.  O amor estar no ar. Posso mandar embrulhar?
- Pra presente, por favor!

22.3.11

Ele e Ela


Dois velhinhos.
Ela não ouvia lá muito bem, quase nada.
Ele a ajudava a escutar.
Ela confiava no que ele a transmitia.
Dois  café com leite, disse ele.
E uma rosca doce daquelas ali, completou ela.
Quem coloca as duas colherinhas de açúcar em cada copo e o cravo da índia trazido no bolso do casaco é ele.
A manteiga só de um lado do pão cortado ao meio é ela quem passa.
Ele espera, afinal,  também confia.
Ela bebe.
Ele come.
Não falam nada e nada se ouve.
Apenas olhares iluminados por um amor cego.

28.2.11

Cansado


Cansei de mensagens não respondidas, comida fria e velas apagadas com lágrimas de maré alta.

Cansei de inflar meu coração com remotas possibilidades, possíveis possibilidades e improváveis possibilidades.

Cansei de possibilidades, de perfumar a cama no lado de lá, de cruzar com aquela cópia da chave de casa na gaveta da cozinha e aspirar por reuniões de pais e mestres.

Cansei de ser pretensioso, respeitador, doce, canalha e irreal.

Cansei desse amor cortês, abstrato, surrealista, Tristão e Isolda.

Cansei de sonhar...sonhar que estou amando.

16.2.11

A voz, aquela!


Não faz muito que comecei a ouvir a voz que soa do meu coração. Por anos a desdenhei chamando-a de intrometida, dissimulada, prepotente, inquieta e presunçosa, além de sufocá-la com os gritos da razão.
Acreditar nela era dar de braço com desconhecido e o incerto, deixando a porta aberta para o incontrolável sinuoso caminho da vida.
Dias atrás quis tirar a prova dos noves e saber realmente de que lado ela estava.
O trem estava vazio, o caminho era longo e a chuva que caia no lado de fora embaçava o vidro eliminando minhas possibilidades de distração.
Notei sua presença pelas redondezas. Passará o dia tentando chamar minha atenção. Eu fiz de conta que não era comigo. Limpei parte do vidro com a manga da camisa e fitei o horizonte através de um buraco. Ali fiquei, perdido.
Não sabia de quem era o dever de iniciar a conversa. Ela veio e deu um suspiro longo. Continue olhando pra outro buraco que limpei com as costas da mão. Não podia nem gritar. Fui educado:
- O que você quer?
- Espaço, disse ela.
- Desde quando você pede? Sempre se intromete em tudo, por que agora essa formalidade toda?
- Isso é o que você acha.
- Isso é a verdade. Por que eu deveria dar ouvidos a você entre as milhares de vozes que ecoam dentro de mim? O que tem você de diferente?
- Não tenho e tão pouco sou especial. Sou apenas mais uma.
- Sabia que é esse seu arzinho de superioridade, de ser a dona da verdade, a tal voz, a verdadeira, que me deixa louco? Você bem sabe por onde eu já andei, quanto já cai e sofri pelas minhas escolhas por não ter te ouvido.
- Pelas suas escolhas, como você bem disse.
- É, estou triste hoje.
- Já percebi.
- Então por que não me diz algo que me faça sofrer mesmo?
- Porque a dor tem que ser sentida. E junto com ela vem a esperança. E entre você e elas estão a agonia, o otimismo, um pouco de reza e a certeza de um novo amanhecer.
-A voz filósofa agora!
- Não, sou e sempre serei a voz do seu coração. Muitas vezes que você disse que caiu eu estava lá, tentando me fazer ser ouvida. Mas você optou por outras. Isso é não é errado. Muitos chegam até nós pela dor, poucos são os que vêm pelo amor.
- Tantas vezes até me pus de joelhos pedindo uma ajuda que fosse para fazer as escolhas certas ou as menos doloridas e quebrei a cara. Onde você estava?
- Aí dentro, como você mesmo disse, existem milhares de vozes. Tem a voz da razão, da beleza, da soberba, do impulso, da luxúria, do ego consciente, do ego inconsciente e muitas outras. Em algumas situações eu simplesmente assisto sua opção de que voz levar pra casa. Mais você já me ouviu muitas vezes também, apesar de não saber ou gostar.
- Engraçado isso, mas sei quando é você... primeiro os meus dias de paz se vão, uma dor no peito me invade e em seguida uma grande guerra se inicia dentro de mim. E então, quando começo a chorar sei que você, a voz pura, chegou.
- É, o choro é uma das nossas ligações mais forte. Chore! Pode chorar a vontade, estou aqui e não te abandono jamais.
-Promete?
- De pés juntos!

6.2.11

Verdades absolutas

“Quando bato uma punheta com a mão tenho sempre o cuidado de que algum esperma me fique nas mãos. Depois raspo-o com unhas compridas e deixo-o secar e endurecer lá por dentro, para mais tarde, ao longo do dia, possa ir roendo as unhas, como recordação e tributo ao meu belo parceiro de foda. Assim, mastigo- o, salivo-o, gargarejo-o e depois de muito e bem o saborear e derreter, engulo-o.  Pois, chamo-lhe o meu ´bombom de saudosa lembrança´...” *
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O Clube do Bem deseja que 2011 seja um ano na qual as verdades absolutas saiam debaixo do tapete. E torce, muito, para que possamos ser aquilo que desejamos, sem nos preocuparmos se tudo nos interessa e nada nos prende...se somos dois!
Feliz liberdade!
*Trecho extraído do livro Zonas Úmidas  da feminista e multimídia inglesa criada na Alemanha Charlotte Roche