31.1.10

Vinho Branco


- Tranque a porta. E lacre-se também. Expire esse ar carregado de dúvidas quando aqui não mais estiver, por favor!
- É claro que pode tirar os sapatos, sempre ficou à vontade.
- Pois é, mandei arrumar o abajur e as toalhas são novas, sim. Aquelas estavam ásperas demais.
- Traquinagem essa vontade de tentar cruzar seus olhos com os meus. Melhor parar.
- Aceito, sim, mas por que trouxera vinho branco? Deixa pra lá.
- Os vizinhos devem estar ouvindo as paredes gargalhando do nosso silêncio.
- Pode fumar na janela.
- É joguei o cinzeiro fora.
- Não, prefiro não fumar hoje.
- Aceito mais vinho, sim.
- O trabalho segue como Deus manda. Semana que vem temos auditoria. Correria total pra arrumar tudo em tempo.
- Opa! Legal, sabe que torço por você. Quando der certo me manda uma mensagem.
- Tenho acordado tarde aos domingos, quero ver se semana que vem consigo ir. Sua mãe, pelo jeito segue na mesma freqüência: missa, missa, missa.
- Se tomaria outra garrafa de vinho, branco? Por quê não?
- Quando é que você vai parar de me perguntar se te amo? Já pensou que talvez o amor seja muito pra nós? Que tal vivermos o te gosto!?
- Cala essa boca discursiva e me beija. Coloca essa língua banhada de vinho branco dentro de mim.
- Não fala mais nada! Apague as luzes e ascende o abajur.
- Hoje, seu nome é formalidade: "Se pode dormir aqui?". Sabe que adoro adormecer ao seu lado, além disso, quando estas dormindo, tem um jeito de me puxar pra junto de ti que faz com que me sinta comendo bolinhos de chuva enquanto assisto a filme velho na televisão. Te gosto!
- Para de me olhar com esse olhar mendigo e vá pro banho. As toalhas novas são ótimas.
- Se pode voltar hoje à noite?...
- Melhor não. Nem gosto tanto de vinho branco assim.