Comecei a andar pelo Centro e procurar alguma loja que vendesse. Nem nos camelôs encontrei.
Passei na igreja, ascendi uma vela e esperei: nada.
Fui pra feira, de imediato corri pra barraca da laranja, quase todo mundo gosta de laranja, então, pensei, é lá. Nem bagaço de abraço.
Quem sabe na farmácia? Só com receita, a moça falou.
Então, pode ser que na floricultura. Passei em frente e vi que não havia muita gente dentro, mesmo assim entrei. Perguntei se tinham alguma flor que comprando ganharia um abraço. O moço relinchou um não. Decidi, de qualquer forma, comprar uma rosa vermelha, sentar-me no chão do calçadão, abrir os braços e esperar.
O comércio baixou suas portas e a chuva se foi. O Sol trouxe o arco-íris. Atônito, fui atrás dele. Sempre ouvir dizer que havia um pote de ouro, pra mim isso era balela e também não me lembrava se era no início ou no final. Tão pouco sabia onde o arco acabava e começava naquela rua. Mas fui, segui as cores, as luzes. Quando me dei conta algumas pétalas da minha rosa vermelha estavam ficando pelo chão. Pensei: é a natureza.
Com uma expressão de infinita bondade ele colocou a única pétala sobrevivente dentro da lata dourada e voltou o seu olhar para o meu e disse:
- Bonequinho, sou um velho que fala errado e sem muitos dentes na boca. Se você quiser pode vir aqui e nos abraçamos.
Com os olhos encharcados não hesitei, ficamos abraçados o tempo suficiente pra eu me lembrar da Luciane e dos seus olhos doces, da Ana Clara e seu abraço forte, da Sonia e sua paz, da Gil e sua gratidão, do Felipe e sua lealdade, da Vanessa e sua sinceridade, do Afonso do tempo da escola, do pessoal da faculdade, do meu primo que não abracei antes de partir e lembrei também da Monica que não gosta de abraço; de repente meu coração apaziguou. Não tinha vontade de desabraça-lo. Ali fiquei por mais algum tempo. Até que indaguei:
-O que faz o senhor aqui.
Envergonhado ele respondeu:
- Sou só o velho da lata dourada, que todos os dias deixa rosas vermelhas nas floriculturas.
No caminho de volta pra casa tinha certeza que havia encontrado o pote de ouro.