26.11.09

Nada menos que o melhor

Estava decretado: Lurdinha não aceitaria nada menos que o melhor, como também, não viraria santa nem mesmo depois de morta. Com quase 30 decidiu abolir da sua existência coisas pela metade. De milagres a amigos, passando por meias transas.
Não ligaria mais, aos sábados de manhã, pra Marcinha convidando-a para uma cervejinha. Ela nunca ia.
Passaria a atravessar a rua para comprar o jornal de domingo, pois viu que lá o jornaleiro sorri quando dá o troco.
Na terapia, começaria a chorar logo nos primeiros minutos, evitando ter que engolir sentimentos malfadados.
Na ginástica, não mais dividiria colchonete. Sozinha se alongaria mais e iria para casa sem aquele peso nas costas.
Nos dias de folga, não faria mais listas de tarefas, afinal, folga completa é dia com folgas.
O Bar do Juca seria trocado pelo Bar do João. A iluminação do Juca não prevalecia a cor dos seus cabelos e no João, não vende meia porção de fritas.
Sem sexo pela internet, distância de homem com base nas unhas, nem pensar em receber apenas um botão de rosa e tão pouco transa fixa que vai embora antes do café da manhã.
Na reunião que teve como seu anjo da guarda a pauta foi uma só: nada de milagres pela metade. E que ficasse bem claro que quando ela pedisse casa, comida e roupa lavada. Não necessariamente estava pedindo um apartamento financiado, tele-entrega de pizza paga com cartão de crédito e lavanderia toda quinta à noite.
E por fim, se aceitaria assim: incompleta, inconformada, insatisfeita e até infeliz. Pela metade? Em construção.