26.8.09

A melhor amiga do despertador

Logo ao fechar a porta um vácuo se fez.
Estranho. Não deve ser nada, pensou.
A mochila antes agarrada às costas escorregou pelo braço direito.
Os sapatos ficaram apoiados um ao outro bem perto da chave que caiu no chão.
Ao olhar pro sofá ela estava lá como uma manta de adorno estatelada, de pernas abertas e com um sorriso de canto de boca.
Atônito tentou contestar.
Impossível.
Vez que sempre ela dava as caras. Nunca limpava os pés no capacho da entrada, mexia no armário da cozinha, derrubava suco no canto da almofada e deixava o chuveiro ligado por horas.
Para deitar no sofá era preciso passar por cima das longas pernas apoiadas na mesa de centro. O cheiro forte fazia com a mão fosse várias vezes ao nariz. Ela nem ligava.
Tinha ainda, predileção por canais de televisão pares e se abancava do controle remoto descaradamente.
Na cozinha seus rastros eram notórios. Nem mesmo apertar a torneira para não vazar água ela era capaz.
Como sempre deixava o sabonete cair ele se acabava, fazendo com que os banhos fossem com água morna ou no máximo com xampu.
Espaçosa, a preguiça, sempre ficava com a maior parte da coberta e tinha mania de dormir na diagonal.
Esperta, era amiga íntima do despertador.