15.3.10

O encontro



“Oi amigo! Tudo bem? Tenho saudade. Sabe, tenho mudado muito nos últimos tempos. Não sou mais a mesma. Mudei muito, mas pra melhor, viu? Só estou um pouco assustada, queria que estivesse aqui para segurar minha mão. Manda notícias, amo-te! Vê”

Vez que outra, Juliano, era agraciado com as mensagens virtuais da Verônica. Amigos de colocarem chicletes no congelador pra continuar mascando depois da janta, se entendiam. Dividiam sonhos, aspirações, suspiros, naufrágios e até uns beijos trocaram; mas não passaram disso, optarem por várias noites ao invés de uma. Desataram as mãos numa dessas vias duplas da vida. Cada um pro seu lado, entretanto: sempre juntos.

Mesmo sem vê-la há um par de meses, Juliano, sabia que Verônica estava fumando, que se envolvera com pessoas certas nas horas erradas, da saída do pai de casa, que a avó estava bem e que a compulsão por tomates secos continuava.
Verônica também sabia que Juliano havia chutado o balde e largado casa, comida e roupa lavada por acreditar numa voz interna e inquieta. Soube também que sua mãe estava com dores nas costas, que ele bebera mais vinho do que antes, nada de casamentos ainda e que o cinema francês fizera sua cabeça.
No entanto, a frase: “não sou mais a mesma” o assustou. Como assim? Como podemos deixar de sermos quem somos?, pensou. Antes de responder a mensagem, parou em frente ao espelho e tentou ver quem estava ali. Viu que ele havia optado por remover algumas coisas, cambiar outras, substituir pensamentos, desviar direções, alargar emoções, dispor-se de outro modo: convertendo-se, variando, transformando-se.

“Oi amiga! Tudo bem? Também tenho saudade. Sabe, tenho mudado muito nos últimos tempos. Deixei de ser quem era, mas não se assuste; acho que foi pra melhor, viu? Pena que você não esta aqui para segurar minha mão. Já que você mudou e eu também, que tal marcarmos um encontro para nos apresentarmos? Manda notícias, amo-te! Ju”