15.9.10

A ponte de dúvidas

Duvidar? Sempre duvidei. E era nesse cepticismo que constantemente planejava tudo, cada passo, cada emoção.
Contudo, sabia que apareceria. Um dia. Poderia ser à noitinha ou de manhã bem cedo. De baixo de chuva ou de suor. O caminho permanecia sinuoso. No entanto, me coloquei bem no centro. No final da descida.
São João Batista, lá de cima, deve se torcer de rir das exigências: um pouco disso, bastante daquilo, nem tanto disto e... eu, sempre aqui, com um belo punhado de dúvidas perdidas no emaranhado de incertezas da real possibilidade da existência de alguém como...você!
Duvidei do seu cheiro cítrico, da sua idade cronológica, do seu gosto por películas mexicanas, do seu sotaque campeiro, da sua intensidade desmedida e até mesmo da sua puerilidade de dizer-me que se perdera no caminho de volta pra casa.
De certezas, eu e você separados por uma ponte de madeiras velha,  minha vontade indômita de te beijar mais uma vez e o desejo de te procurar querendo não te achar. Já que atravessar  essa ponte seria muito mais que lutar pelo equilíbrio de me manter em pé. Seria deixar o delineado, esquecer as apostas, abandonar um mito, cansar de ser e estar só, trair a minha solidão  e se deleitar com a possibilidade de ter ao meu lado e de mãos dadas.  Atravessar essa ponte seria se beneficiar da dúvida.
Arrumei minhas malas e fui. Preferi não avisar. Surpresa, sabe? Só quando me assenti notei que a ponte havia caído. Na dúvida, voltei.