28.2.11

Cansado


Cansei de mensagens não respondidas, comida fria e velas apagadas com lágrimas de maré alta.

Cansei de inflar meu coração com remotas possibilidades, possíveis possibilidades e improváveis possibilidades.

Cansei de possibilidades, de perfumar a cama no lado de lá, de cruzar com aquela cópia da chave de casa na gaveta da cozinha e aspirar por reuniões de pais e mestres.

Cansei de ser pretensioso, respeitador, doce, canalha e irreal.

Cansei desse amor cortês, abstrato, surrealista, Tristão e Isolda.

Cansei de sonhar...sonhar que estou amando.

16.2.11

A voz, aquela!


Não faz muito que comecei a ouvir a voz que soa do meu coração. Por anos a desdenhei chamando-a de intrometida, dissimulada, prepotente, inquieta e presunçosa, além de sufocá-la com os gritos da razão.
Acreditar nela era dar de braço com desconhecido e o incerto, deixando a porta aberta para o incontrolável sinuoso caminho da vida.
Dias atrás quis tirar a prova dos noves e saber realmente de que lado ela estava.
O trem estava vazio, o caminho era longo e a chuva que caia no lado de fora embaçava o vidro eliminando minhas possibilidades de distração.
Notei sua presença pelas redondezas. Passará o dia tentando chamar minha atenção. Eu fiz de conta que não era comigo. Limpei parte do vidro com a manga da camisa e fitei o horizonte através de um buraco. Ali fiquei, perdido.
Não sabia de quem era o dever de iniciar a conversa. Ela veio e deu um suspiro longo. Continue olhando pra outro buraco que limpei com as costas da mão. Não podia nem gritar. Fui educado:
- O que você quer?
- Espaço, disse ela.
- Desde quando você pede? Sempre se intromete em tudo, por que agora essa formalidade toda?
- Isso é o que você acha.
- Isso é a verdade. Por que eu deveria dar ouvidos a você entre as milhares de vozes que ecoam dentro de mim? O que tem você de diferente?
- Não tenho e tão pouco sou especial. Sou apenas mais uma.
- Sabia que é esse seu arzinho de superioridade, de ser a dona da verdade, a tal voz, a verdadeira, que me deixa louco? Você bem sabe por onde eu já andei, quanto já cai e sofri pelas minhas escolhas por não ter te ouvido.
- Pelas suas escolhas, como você bem disse.
- É, estou triste hoje.
- Já percebi.
- Então por que não me diz algo que me faça sofrer mesmo?
- Porque a dor tem que ser sentida. E junto com ela vem a esperança. E entre você e elas estão a agonia, o otimismo, um pouco de reza e a certeza de um novo amanhecer.
-A voz filósofa agora!
- Não, sou e sempre serei a voz do seu coração. Muitas vezes que você disse que caiu eu estava lá, tentando me fazer ser ouvida. Mas você optou por outras. Isso é não é errado. Muitos chegam até nós pela dor, poucos são os que vêm pelo amor.
- Tantas vezes até me pus de joelhos pedindo uma ajuda que fosse para fazer as escolhas certas ou as menos doloridas e quebrei a cara. Onde você estava?
- Aí dentro, como você mesmo disse, existem milhares de vozes. Tem a voz da razão, da beleza, da soberba, do impulso, da luxúria, do ego consciente, do ego inconsciente e muitas outras. Em algumas situações eu simplesmente assisto sua opção de que voz levar pra casa. Mais você já me ouviu muitas vezes também, apesar de não saber ou gostar.
- Engraçado isso, mas sei quando é você... primeiro os meus dias de paz se vão, uma dor no peito me invade e em seguida uma grande guerra se inicia dentro de mim. E então, quando começo a chorar sei que você, a voz pura, chegou.
- É, o choro é uma das nossas ligações mais forte. Chore! Pode chorar a vontade, estou aqui e não te abandono jamais.
-Promete?
- De pés juntos!

6.2.11

Verdades absolutas

“Quando bato uma punheta com a mão tenho sempre o cuidado de que algum esperma me fique nas mãos. Depois raspo-o com unhas compridas e deixo-o secar e endurecer lá por dentro, para mais tarde, ao longo do dia, possa ir roendo as unhas, como recordação e tributo ao meu belo parceiro de foda. Assim, mastigo- o, salivo-o, gargarejo-o e depois de muito e bem o saborear e derreter, engulo-o.  Pois, chamo-lhe o meu ´bombom de saudosa lembrança´...” *
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O Clube do Bem deseja que 2011 seja um ano na qual as verdades absolutas saiam debaixo do tapete. E torce, muito, para que possamos ser aquilo que desejamos, sem nos preocuparmos se tudo nos interessa e nada nos prende...se somos dois!
Feliz liberdade!
*Trecho extraído do livro Zonas Úmidas  da feminista e multimídia inglesa criada na Alemanha Charlotte Roche