31.1.10

Vinho Branco


- Tranque a porta. E lacre-se também. Expire esse ar carregado de dúvidas quando aqui não mais estiver, por favor!
- É claro que pode tirar os sapatos, sempre ficou à vontade.
- Pois é, mandei arrumar o abajur e as toalhas são novas, sim. Aquelas estavam ásperas demais.
- Traquinagem essa vontade de tentar cruzar seus olhos com os meus. Melhor parar.
- Aceito, sim, mas por que trouxera vinho branco? Deixa pra lá.
- Os vizinhos devem estar ouvindo as paredes gargalhando do nosso silêncio.
- Pode fumar na janela.
- É joguei o cinzeiro fora.
- Não, prefiro não fumar hoje.
- Aceito mais vinho, sim.
- O trabalho segue como Deus manda. Semana que vem temos auditoria. Correria total pra arrumar tudo em tempo.
- Opa! Legal, sabe que torço por você. Quando der certo me manda uma mensagem.
- Tenho acordado tarde aos domingos, quero ver se semana que vem consigo ir. Sua mãe, pelo jeito segue na mesma freqüência: missa, missa, missa.
- Se tomaria outra garrafa de vinho, branco? Por quê não?
- Quando é que você vai parar de me perguntar se te amo? Já pensou que talvez o amor seja muito pra nós? Que tal vivermos o te gosto!?
- Cala essa boca discursiva e me beija. Coloca essa língua banhada de vinho branco dentro de mim.
- Não fala mais nada! Apague as luzes e ascende o abajur.
- Hoje, seu nome é formalidade: "Se pode dormir aqui?". Sabe que adoro adormecer ao seu lado, além disso, quando estas dormindo, tem um jeito de me puxar pra junto de ti que faz com que me sinta comendo bolinhos de chuva enquanto assisto a filme velho na televisão. Te gosto!
- Para de me olhar com esse olhar mendigo e vá pro banho. As toalhas novas são ótimas.
- Se pode voltar hoje à noite?...
- Melhor não. Nem gosto tanto de vinho branco assim.

27.1.10

O mal de Sabrina


Na vizinhança Sabrina era conhecida como a menina de sorte. Daquelas que se reclamasse da vida estaria pecando. Desde a primeira comunhão era assim: boa aluna, ótima estagiária, excelente filha. No entanto, de uns tempos pra cá a moça chorava sem parar.
Os motivos ela jurava de pés juntos não saber. Apenas dizia haver dentro dela um sentimento que a incitava a não querer mais acordar.
Os pais atônitos tentaram médico, água benta, cartomante, viagem de navio; entretanto, nada foi capaz de motivar Sabrina a deixar a maldita cama.
27 dias e os comentários não puderam ser evitados, pois ninguém entendia porque uma moçoila bem criada, com um bom emprego, estudada, bonita e cheia de saúde cairá de cama.
Arriscaram olho gordo, gravidez, solitária, água no joelho e até encosto. As tias de longe vieram para fazer simpatia. A amiga da família lá do norte mandou uma garrafada. A avó fez novena para Santa Rita e nada.
38 dias e o pai de Sabrina já não mais duvidava de cirurgias espirituais. No trabalho os clientes perguntavam pelo repentino desaparecimento. Os casinho de final de semana começaram a ligar e a mãe, coitada; pelos cantos, chorava desconsolada.
54 dias e nem sinal de melhora. A linguaruda da Lucia, da casa amarela, sugeriu que os pais já fossem procurando uma funerária e deixassem tudo prontinho para evitar correria.
Faltando um dia para completar 73 de cama, Sabrina, acordou, se maquiou, vestiu o uniforme, abriu as cortinas, fitou a cama por quase duas músicas, deu um sorriso espaçoso e foi tomar café da manhã.
Pasmados a família não sabia se continuava a chorar ou se sorria. A mãe correu pra cozinha, pegou mais geléia de morango, torrou pães, fez um mingau de chocolate e mal notou que a filha já estava de saída.
O pai abobado, gritando, conseguiu pega-la ainda na porta e ofegante indagou:
- O que aconteceu, minha filha?
Com o mesmo sorriso espaçoso Sabrina respondeu:
- Cansei de boicotar minha felicidade.


17.1.10

As chuvas

5, 4, 3, 2, 1... Feliz ano novo!
Chove.
Mas já é ano novo.
Não me sinto mais feliz.
O pai e a filha da casa ao lado ainda brigam durante os jantares.
Meu remédio não baixou o preço.
Nem um quilo a menos.
Nem um amigo a mais.
Chove.
Quando será que vem a promoção?
Poderia já comprar roupas de chefe.
Sinto-me enfermo.
Falta de alegria.
Até tenho esperança.
E se ela acabar antes do meio do ano?
Melhor parar de ler o horóscopo.
Chove.
O encanador não veio.
Manchei uma camisa.
A aula de dança não tinha mais vaga.
Quem sabe natação?
Hoje, fumei menos.
Ontem chorei mais.
Talvez seja a chuva.

11.1.10

Quando é tarde?



Cala-te! Não te dê essa feitura. Engula cada mistura de consoantes e vogais. Engana-te se achas que corresponderei. Ficaste na última estação. Já quis dizer-te tanto e nem por isso pensei em colocar nossas iniciais em toalhas felpudas. Não me fite demoradamente, tão pouco, conte-me que o preço da broa de coco esta pela hora da morte.
Cala-te! Não vê que deixei o leite no fogo? Economize sua colônia de cheiro. Deixe-me! Aproveite que a chuva parou e o Sol renasceu. Tentei doar-me a ti, pulei muros, contei estrelas, esperei. Dormi!
Cala-te! Não vê que estou de preto? Respeite-me. Por ti encharquei fronhas de gorgorão adornadas com fitas de cetim, pintei paredes de verde e, até, comunguei aos domingos.
Cala-te! E não me venha com seu amor tardio.

7.1.10

Jogo da Verdade


O Clube do Bem promoveu, na primeira semana do ano novo, um Jogo da Verdade com objetivo de  fomentar os valores da associação, bem como, reforçar que o único caminho para se chegar além é sendo aquilo que se é.
Participaram da mesa os sócios: Ludmila Ávila Conceição, Joana D´arc Pereira, Laura Fernanda de Almeida e Costa, Danilo (como o sócio pediu para ser identificado), J.P. e Tiago de Passofundo.
Foram lançadas três baterias de perguntas e repostas. Na primeira, os homens perguntaram para as mulheres; na segunda as mulheres para os homens e na terceira e última o Clube do Bem perguntou para os jogadores. A ordem de quem perguntou para quem foi definida no par ou ímpar e a única regra da brincadeira era dizer a verdade; sendo que dentro dela poderia ser encontrado a parcialidade, a insanidade e, até mesmo, a mentira.

Primeira rodada

Tiago pergunta para Laura:
Você cospe ou engole?
Laura: Já engoli muito, hoje, cuspo na cara.
Joana pediu a palavra: “Eu só não engulo como faço gargarejo. Adoooooro!”

J.P. pergunta para Joana:
Se te oferecessem um milhão de dólares para nunca mais assistir a programas na televisão você aceitaria?
Joana: De jeito nenhum! Dinheiro no mundo compra o prazer que tenho de viver a vida dos outros.

Danilo pergunta para Ludmila:
O que te dá mais prazer: retirar aquele fiapo de carne do dente, desatolar a calcinha da bunda, peidar antes cagar ou limpar o ouvido e cheirar a cera?
Ludmila: Com certeza absoluta desatolar a calcinha da bunda. Ainda mais quando parece estar cortando. Meu Deus é um alívio!
Joana pediu a palavra: “desatolar é bem bom mesmo, mas adooooro colocar as cascas que retiro do nariz debaixo de superfícies sólidas como mesa, cadeira e sofá. E o melhor de tudo é quando se tenta tirá-las do dedo e elas insistem em ficar, adoooooro aquela brincadeirinha.”

Segunda rodada

Joana pergunta para Tiago:
Se você pudesse aumentaria seu pau?
Tiago: Com certeza! E deixaria com uns 23,5cm pra 25cm e grosso. Ainda por cima andaria só sem cueca, pra ver o balanço. A única vantagem (se é que se pode chamar de vantagem) de ter pau pequeno é que se ativa a criatividade e o poder da língua e dos dedos, no mais, é dar duas os três balançadas antes de colocar o bendito pra fora e já era!

Ludmila pergunta para J.P. :
Você fez troca-troca quando pequeno?
J.P.: Fiz sim, com dois ou três vizinhos.
Ludmila: Dois ou três?
J.P.:Três. Mas era só brincadeira de encostar. Mais aí um dia o negócio foi pra dentro e P-U-T-A Q-U-E- P-A-R-I-U! Que sensação mais boa! Ali peguei gosto por comer cú. Sou casado há oito anos, mas todas as terças e quintas depois da novela saio a procura de merda. Fiquei realmente feliz em saber que esse cheiro me excita e me faz feliz.
Joana pede a palavra: “ E por que você não come o cú da sua mulher?”
J.P.: Porque ela não come carne e a merda dela não fede.

Laura pergunta para Danilo:
Se colocassem uma câmara no seu banheiro e deixassem tempo suficiente para que você esquecesse que ela existe, o que veríamos?
Danilo: Que a primeira parte do corpo que lavo é o sovaco esquerdo. Veriam que as vezes não lavo os pés. Que penteio meu bigode com a escova de dente da minha mulher. Que durante o banho da manhã bato punheta olhando, pela janela, as meninas do colégio vizinho fazerem aula de Educação Física. Que uso o mesmo pedaço de papel higiênico duas ou três vezes. Que tem dias que as lágrimas se juntam as águas do chuveiro. Que vez ou outra  imito a Amy Winehouse em frente ao espelho. Que trepo com minha mulher na pia e debaixo do chuveiro. Acho que é isso, afinal, banheiro é sempre uma surpresa!

Terceira rodada

Clube do Bem pergunta para todos 1:
Se Jesus, realmente, voltasse à terra como muitos pregam por aí; onde vocês o levariam?
Ludmila: Na rua 25 de março em São Paulo, em pleno dia 22 de dezembro, perto da hora do almoço e com chuva.
Joana: Em uma festa de swing com solteiro liberados e open bar.
Laura: Na casa da minha avó para comermos cuca de banana feito por ela.
Danilo: Tentaria escrevê-lo no Big Brother Brasil e depois seria seu empresário.
J.P.: Na sala dos milagres na Basílica de Nossa Senhora da Aparecida, só pra ver como ele faria pra dar conta de atender tudo aquilo e ainda levar todas aquelas oferendas pra casa.
Tiago: Em uma churrascaria com sistema de rodízio e convidaria pra mesa o Silvio Santos, o Edir Macedo, a Bispa Sonia Hernandes, a Monja Coen, o Padre Marcelo Rossi e a Gretchen.

Clube do Bem pergunta para todos 2:
Duas coisas na qual vocês não vivem sem?
J.P.: Trabalho e amendoim
Joana: Roupas verde e sexo oral
Laura: Poesia e enxaguante bucal
Danilo: Excel e chocolate
Tiago: Trânsito e relógio
Ludmila: Amor e vontades

Clube do Bem pergunta para todos 3:
Eu prometo para esse ano novo...
Joana: Eu prometo passar fio dental todos os dias.
Tiago: Eu prometo parar de cheirar antes de comer.
Danilo: Eu prometo nunca esquecer de olhar se há um câmara escondida no meu baanheiro.
Laura: Eu prometo pular amarelinha aos sábados.
Ludmila: Eu prometo aceitar o sexo pelo sexo.
J.P.: Eu prometo seguir o lema do Clube e tentar ser quem eu realmente sou e que se foda os outros!