16.2.11

A voz, aquela!


Não faz muito que comecei a ouvir a voz que soa do meu coração. Por anos a desdenhei chamando-a de intrometida, dissimulada, prepotente, inquieta e presunçosa, além de sufocá-la com os gritos da razão.
Acreditar nela era dar de braço com desconhecido e o incerto, deixando a porta aberta para o incontrolável sinuoso caminho da vida.
Dias atrás quis tirar a prova dos noves e saber realmente de que lado ela estava.
O trem estava vazio, o caminho era longo e a chuva que caia no lado de fora embaçava o vidro eliminando minhas possibilidades de distração.
Notei sua presença pelas redondezas. Passará o dia tentando chamar minha atenção. Eu fiz de conta que não era comigo. Limpei parte do vidro com a manga da camisa e fitei o horizonte através de um buraco. Ali fiquei, perdido.
Não sabia de quem era o dever de iniciar a conversa. Ela veio e deu um suspiro longo. Continue olhando pra outro buraco que limpei com as costas da mão. Não podia nem gritar. Fui educado:
- O que você quer?
- Espaço, disse ela.
- Desde quando você pede? Sempre se intromete em tudo, por que agora essa formalidade toda?
- Isso é o que você acha.
- Isso é a verdade. Por que eu deveria dar ouvidos a você entre as milhares de vozes que ecoam dentro de mim? O que tem você de diferente?
- Não tenho e tão pouco sou especial. Sou apenas mais uma.
- Sabia que é esse seu arzinho de superioridade, de ser a dona da verdade, a tal voz, a verdadeira, que me deixa louco? Você bem sabe por onde eu já andei, quanto já cai e sofri pelas minhas escolhas por não ter te ouvido.
- Pelas suas escolhas, como você bem disse.
- É, estou triste hoje.
- Já percebi.
- Então por que não me diz algo que me faça sofrer mesmo?
- Porque a dor tem que ser sentida. E junto com ela vem a esperança. E entre você e elas estão a agonia, o otimismo, um pouco de reza e a certeza de um novo amanhecer.
-A voz filósofa agora!
- Não, sou e sempre serei a voz do seu coração. Muitas vezes que você disse que caiu eu estava lá, tentando me fazer ser ouvida. Mas você optou por outras. Isso é não é errado. Muitos chegam até nós pela dor, poucos são os que vêm pelo amor.
- Tantas vezes até me pus de joelhos pedindo uma ajuda que fosse para fazer as escolhas certas ou as menos doloridas e quebrei a cara. Onde você estava?
- Aí dentro, como você mesmo disse, existem milhares de vozes. Tem a voz da razão, da beleza, da soberba, do impulso, da luxúria, do ego consciente, do ego inconsciente e muitas outras. Em algumas situações eu simplesmente assisto sua opção de que voz levar pra casa. Mais você já me ouviu muitas vezes também, apesar de não saber ou gostar.
- Engraçado isso, mas sei quando é você... primeiro os meus dias de paz se vão, uma dor no peito me invade e em seguida uma grande guerra se inicia dentro de mim. E então, quando começo a chorar sei que você, a voz pura, chegou.
- É, o choro é uma das nossas ligações mais forte. Chore! Pode chorar a vontade, estou aqui e não te abandono jamais.
-Promete?
- De pés juntos!

3 comentários:

Dona ervilha disse...

Eita! Tava com saudade de te ler. Tudo bem aí? Beijão.

Anônimo disse...

Baita Leitura... Me fes lembrar de uma pessoa especial em minha vida, uma ex namorada, que eu magoei muito, pois eu sabia que ela me amava muito, e eu não correspondia, pois como todo o homem, não gostava de quem gostava de mim, eu queria sim um corpo escultural, uma musa para me aparecer diante da sociedade, e sempre que eu levava uma guamba, ou um pé na bunda, era ela quem estava do meu lado, ela nunca desistiu de mim... Me dava força para tudo e para qualquer dicisão, ela nunca desistiu... Até queum dia eu enjoei de corre atras do que não me fazia bem, e dei uma chance a felicidae, a melhor escolha da minha vida, casamos em 2007, e hoje somos o casal mais feliz do mundo, temos 2 filhos lindos, filhos estes que me mostraram o verdadeiro sentido da vida... Por isso que as vezes é bom dar ouvidos as vozes que querem nos erguer, com certeza elas sempre estão com a razão...

Um forte abraço no coração...

Paulo Rogério de Souza disse...

Poxa "Anônimo" baita depoimento. Ainda bem que deu espaço para a voz do coração fazer o papel dela. As vezes, a felicidade bate tanto na porta que nos atucanamos com o barulho que nem percebemos as batidas.
Continue sendo feliz!
Volte sempre por aqui e um abração no coração!