22.2.10

A Teoria do Achismo


Martinha se achava a tal. Sabe quando uma pessoa se sente... digamos: o último cachorro- quente após saída de jogo de futebol? Martinha! Ou que ela achava que era.
Sem querer, pelo mesmo é o que parecia, a moça implantara em sua vida o que vou chamar de Teoria do Achismo. Isso mesmo. Martinha passava seus dias achando. Quer ver?

Ela achava de pés juntos que o Sr. Hélio, vizinho de porta, era gay. Ela nunca soubera de nada que o comprometera como orgias, flagras no elevador ou barulhos denunciadores à noite; no entanto, o lenço despretensiosamente colocado no bolso do blazer e o jeito que ele segurava a chave já pronto pra abrir a porta, era a guilhotina pura. No alto do seu achismo, Martinha pensava: esse velho não me engana!

No trabalho, dona Viviam, secretaria do grupo há 27 anos era a da vez. Sim, Martinha, encrencava com aqueles sapatos de verniz salto cinco. Ela achava que dona Viviam nunca tivera tido mais que dois homens na vida. E se teve orgasmo alguma vez, fingiu. Além disso, achava que ela deveria viver entre gatos e chá de capim-santo: solteirona. Sem falar que Martinha achava o fim, dona Viviam, sequer parar para um cigarrinho e falar mal dos chefes. Mesmo sem nunca ter ouvido uma história sequer da boca da vitalícia funcionária, Martinha, achava que certas coisas nem precisavam ser ditas.

O caso com Henrique não durou mais que dois meses. Martinha sempre achou que o rapaz a traia com a Michele, ainda que os dois nunca tivessem se encontrado. Ela dizia que isso era sexto sentido. Michele era a sobrinha do Sr Cido, dono da padaria do bairro. Martinha, sempre que via a moça no caixa achava que ela sim combinava com Henrique. Daí pro sexto sentido era um pulo. Nadando em duvida, achou melhor largar.

Tenho pra mim que Martinha era a maior vítima do seu veneno, pois mesmo malhando todos os dias ela se achava gorda. Gastava mais que ganhava, afinal, pagava sempre a primeira e, as vezes, a segunda e a terceira rodada já que se achava sem graça sã. Nos primeiros encontros sempre colocava a moeda de um dólar no sutiã: achava que dava sorte. Evitava McDonald´s por achar que as carnes eram feitas de minhocas. Achava que a Aline tinha pais perfeitos e que a Manuela sim era feliz. Achava-se triste, frívola, agridoce. As vezes se achava mais bonita no lado direito. No fundo Martinha estava perdida, tentando se achar.

2 comentários:

Quase 30 disse...

Ótima narrativa. Acho que você leva jeito como escritor...rsss..acho que Dublin está te fazendo bem...acho que estás mais bonito...acho que vou te visitar..tonho certeza da saudades! beijooo

Paulo Rogério de Souza disse...

Acho muito bom você vir mesmo, Va.
A saudade é a única certeza.
Te amo!